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Morei na Espanha durante alguns meses. Fui estudar espanhol em uma escola para estrangeiros, então tive contato com pessoas de todos os continentes: europeus, asiáticos, americanos e latino americanos.

Durante toda aula fiquei me lembrando de como o andar, os trejeitos e o modo de falar das pessoas me auxiliavam de maneira muito instintiva a decifrar de onde essas pessoas eram. E fazia esse exercício solo em todos os momentos. Não só nas aulas, mas em passeios e viagens pela Europa. De muito observar fui criando clusters mentais de nacionalidades e regionalidades.

A diferença entre o catalão e o madrileño, por exemplo: a forma do catalão se movimentar me parecia mais suave, porém o jeito de falar era exagerado, as vezes grosseiro, direto ao ponto e sempre tinha uma \"malandragem\". Já o madrileño é apressado, um andar sempre rápido, quando comparado, era mais gentil, porém formal demais. Além disso, são mais fechados.

Usei minhas referências culturais brasileiras para comparar e fazendo um paralelo, os perfis podiam ser comparados a diferenças regionais claras que temos aqui. O catalão é o carioca. O madrileño, o paulista.

Eu tinha muito claro como EU diferenciava os outros e não percebi como era diferenciada. Entre todos os brasileiros, quando estávamos juntos, eu era a \"paulistinha\". Não existia o \"carioca\", a \"bahiana\", mas existia a paulistinha. Eu não era a única do estado de São Paulo, mas a única da cidade e meu sotaque, minha risada, meu jeito de andar, para os demais brasileiros me identificava prontamente como a paulista. Os brasileiros se chamavam todos pelo nome, eu tinha o apelido de \"paulistinha\".

Já sabia que a história que paulista conta que \"não tem sotaque\" é coisa de paulista mesmo, mas nessa vivência ficou claro que dentro da minha bolha paulistana eu nunca tinha me colocado como \"a diferente\" e sim como a que aponta as diferenças. A auto análise sobre minha história, repertórios, escolas que estudei, família e consequentemente meu andar e o sotaque \"muito paulista meu\" surgiu dessa experiência e desde então, meu olhar também foi direcionado a descobrir a cultura dentro do meu micro universo.

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