Degustar a história do documentário sobre Oaxaca, no México, da série “Street Food” é se envolver em uma narrativa constantemente pontuada pelo aroma da coragem de mulheres que mantém uma tradição para além delas, mas de uma resistência feminina que perdura há séculos.
A história das "memelas" e "águas saborizadas" conta sobre uma ideia de família forte e a importância da tradição repassada de pais para filhos, circundada pelo fogo, dificuldades e a reinvenção muitas vezes causada por eventos como êxodo rural, o falecimento de um patriarca ou a decisão de ousar ser quem se é, para além de qualquer carimbo de feminista.
E a comida é um personagem importante para entender essas trajetórias já que na América Latina a família e a comida possuem um signo de aconchego quase mágico.
De Frida Kahlo com seu livro da ‘Erva Santa” e seu pacto por dias emprestados com a senhora de todo sopro de vida, a Isabel Allende e seu livro Afrodite de crônicas e receitas capazes de despertar desejos, mas sem esquecer a canja de galinha muito usada por mim para curar gripes e resfriados.
Esse encontro produziu em mim, uma antropóloga da metrópole brasileira, um sopro de esperança e a ideia de fazer parte de um seleto grupo de mulheres que conseguem se reinventar e tudo a sua volta, inclusive os signos que são utilizados muitas vezes para oprimir, como a cozinha.
Nesta história a comida é transformação não só de condimentos, mas também de corpos que se esperava dóceis e, principalmente, de destinos.
A culinária é a sustentação daquelas mulheres e o alimento de coragem para vários espectadores incluindo a mim.