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A cultura ocidental moderna fez com que nossas mentes girassem em torno de uma órbita peculiar. Passamos a acreditar que as coisas mais importantes na vida são o dinheiro e a racionalidade. E o pior, temos certeza de que fazemos tudo orientados pela utilidade de alguma coisa ou nossa própria necessidade.

A regra é mais ou menos clara: Se algo faz sentido, é economicamente vantajoso, nos jogamos sem pensar duas vezes.

Vai lá e faz, dizem as palestrinhas do Vale do Silício.

E por isso tentamos ser o mais práticos possível pois isso nos faz acreditarmos que a vida pode ser vista do jeito mais racional.

Era assim até Marshall Sahlins, antropólogo norte-americano, desconstruir essa ideia. Ele pontuou que o racionalismo faz parte da nossa espécie, mas não significa que seja a regra primordial. E continua: muitas das coisas que fazemos não estão ligadas às razões práticas, mas às razões culturais.

Pensa bem: Qual a razão prática de se ter filhos?

Não há nenhuma vantagem econômica em ter filhos. A razão pela qual temos um filho é explicada pelo desejo que a sociedade planta em nós de sermos pais, termos uma família doriana e parecermos muito felizes no Instagram. É uma vontade, um desejo, um sonho.

Você se sentirá realizado se construir uma família, assim como contam as lendas da nossa cultura. Por isso que crescemos escutando que quando adultos, o ideal é achar um parceiro e ter filhos. Se você não segue esses passos, você sofre a clássica pressão familiar: vai ficar para titia.

Outro exemplo: qual o sentido racional e prático de ir a um estádio de futebol ou mesmo assistir um jogo da seleção numa TV com todas as polegadas imagináveis? E ainda: comprar cerveja, petiscos e chamar aqueles amigos folgados pra tua casa? Tá economizando com isso? Tá respondendo a alguma necessidade prática? Não! E no entanto fazemos isso com prazer.

É uma grande construção social.

E, se somos seres capazes de atribuir significado para as coisas, não somos meramente corpos com necessidades biológicas. Muitas das coisas que vamos atrás, o fazemos para obter felicidade e satisfação. Outras perseguiremos, mesmo a duras penas, porque acreditamos que a recompensa será maior, como caminhar quilômetros pelo caminho de Santiago ou os mesmos quilômetros passeando e fazendo compras em Nova York, depende do que faz sentido para você. O peregrino religioso e o turista ávido por coisas podem olhar um para o outro achando que o que o outro faz é besteira.

É graças a essa capacidade do ser humano de criar significados e sentidos para a vida que o básico é tão importante quanto o supérfluo. Se não fosse assim, ninguém teria filhos, pois todos sabem o trabalho e os gastos que dá. Mas a cultura diz que, se engravidarmos, seremos felizes.

A razão cultural sobrepõe-se, em muitos pontos, à razão prática. Você não gasta rios de dinheiro em roupa só para se cobrir. Você gasta para ostentar, mostrar o que você quer que os outros vejam.

Por mais que tentemos resistir a cultura, ela está dentro de nós. Todos os seus sonhos, por mais racionais que você ache que são, foram moldados em você através do seu meio, da sua família e das suas relações.

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Vai lá e faz, dizem as palestrinhas do Vale do Silício.

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Racionais, pero no mucho

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