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Minha mãe é coordenadora do Projeto Inspira na UFSM, mesma universidade em que me formei. Os eventos do Inspira acontecem três vezes ao ano. Nesse dia as mães em situação de cárcere podem ver seus filhos, os em idade escolar pelo menos.

Organizado em parceria com a Polícia Federal e a SUSEPE o evento é realizado fora do presídio, em um ginásio da cidade, as mães e as crianças são identificadas com a camiseta do evento e brincadeiras e oficinas são disponibilizadas para todas as crianças.

Alunos e alunas de alguns cursos da UFSM participam do evento. Pedagogia, Direito, Odontologia, Educação Física e Terapia Ocupacional são alguns exemplos. Eu fui convidada porque desenvolvi a identidade visual do Projeto e aceitei pela experiência e vivência diferente que sabia que teria.

A proximidade com as mulheres foi conquistada de forma rápida, muitas delas são muito receptivas e algumas bem desinibidas e falantes. Isso proporcionou conversas e relatos sobre a vida delas antes e durante o cárcere, e destes relatos, dois me chamaram muito a atenção.

O primeiro foi uma delas contando os detalhes de quando foi pega na rua, o quanto apanhou, contou-me que estava grávida e que isso não mudou em nada a abordagem policial. O policial agressor estava presente no evento, ela nos mostrou quem ele era e disse que nunca vai esquecer os olhos azuis dele olhando pra ela.

O segundo é um relato menos forte, mas surpreendente pela sua “simplicidade”. Uma das mães pediu a mochila do filho (que contém os pertences da criança e que são arrumados pelos cuidadores) para ver se tinha bolacha recheada. Comentou que sentia muita falta de comer, isso e chocolate, duas coisas que não entram no presídio por serem facilmente utilizadas para esconder drogas, como a cocaína por exemplo.

Ouvir relatos de abuso policial na TV, na boca de jornalistas, que possivelmente nunca viveram o fato é absurdamente diferente de ouvir da vítima, ainda mais com tantos detalhes e sentimentos. O caso da bolacha/chocolate me impressionou quando pensei que mesmo privadas de várias outras coisas, foi de coisas simples que todas disseram sentir falta.

Bem, a única coisa que tenho em comum com aquelas mulheres é o fato de sermos mulheres, nem filhos eu tenho, e sei que é impossível que as coisas fossem iguais pra mim no caso de uma situação de cárcere, por exemplo; afinal entre outros tantos privilégios, minha pele é branca e minha situação financeira é muito melhor que a delas. Foi uma das primeiras vezes que percebi que não há empatia que chegue para me fazer ocupar estes lugares, apenas se imaginar no lugar do outro não é suficiente.

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Relatos de mulheres em situação de cárcere.

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