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Se fossemos descrever um abraço, seria simples, braços que se encontram. Mas no Brasil não, no Brasil abraço é coisa séria e é repleto de rituais.

Se é abraço entre homens, é cabeça no ombro. Se é abraço de jovem, tem prosa, se o abraço é de família tem tapinha nas costas. Se é abraço de rico é de longe, se é abraço do povo, acolhe. Se vem do Nordeste, o abraço é “um cheiro”, aqui no Sul abraço é truncado. No Rio, abraço é beijo, em SP abraço é aperto de mão.

E por mais que toda construção seja cheia de preconceitos, nessa aqui também tem um pouco de poesia. A gente sabe que generalizar é não reconhecer as nuances, mas no abraço até se tolera. Apesar do abraço “à brasileira” parecer igual, cada abraço é diferente, e todos eles são estranhos para o resto do mundo.

Abraço é aquele traço que vem da cultura e enraíza no corpo para fluir entre humanos. Sob diferentes óticas ele refuta e internaliza o que se aprende ao longo da vida. Além do território a que se destina, tem origem no gênero, na idade, na raça, na cultura. Abraço é um território singular.

As regras do abraço a gente aprende na vida, entre o social e o cultural, depois vive elas no cotidiano, toma posse do imaginário para educar o corpo.

E se a tradição manda, no abraço o corpo obedece e para quem deseja quebrar as regras, basta um abraço fora do lugar que a cabeça já fica confusa. Misturinha aqui e por lá, abraço também é cheio de técnica do corpo.

E se um corpo fala, abraço é tradução de várias línguas.

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