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Ao frequentar uma loja de roupa no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, a interação que estabeleço com a vendedora pode exemplificar um momento de sociação cotidiano. O processo tem características particulares: a loja é de uma marca autoral de roupas de linho, localizada em uma das ruas mais famosas do bairro, em uma das casas típicas da região. Nos arredores, restaurantes, cafés e residenciais compõem um dos metros quadrados mais caros da cidade.

Faço parte do público-alvo da loja: jovem, moradora da zona sul, adepta do slow fashion, preocupada com sustentabilidade, com a origem das peças, com o comércio local. A vendedora, da minha idade, se apresenta pelo apelido e automaticamente pergunta onde eu moro e o que estou fazendo ali pelas redondezas em um sábado à tarde (passeando, comprando, etc.). Em um esforço de intimidade, busca um meio termo entre o atendimento profissional e o trato \"carinhoso\", parecido com o de uma amiga que está ali para mais para me ajudar e agradar e menos para simplesmente realizar uma transação comercial.

Nesse jogo, ela me explica que a loja trabalha com \"malinhas\", que entregam na zona sul peças selecionadas caso a cliente deseje provar em casa e escolher quais peças vai querer. Ilustra: \"Por exemplo, você tem uma festa hoje e não sabe o que vestir - é só passar um Whastapp pra gente que o motoboy leva algumas opções na sua casa. Você escolhe o que quer, devolve o que não quer e pode pagar de várias maneiras\". O pagamento parece ser só um detalhe naquela experiência tão fácil e prática.

A minha postura, por outro lado, é de tirar vantagem daquela atenção. Posso pedir dicas, perguntar a opinião sobre cores, testar looks ali mesmo na loja. Ao final, escolho uma peça; no caixa, a dona está presente contando como a produziu. Comentamos sobre o tecido, a modelagem, o caimento, a feitura da peça. O clima é amistoso, quase como se as roupas e o atendimento fossem pensados sob medida.

Esse tipo de interação faz com que a lógica de consumo de moda seja atualizada: não mais o shopping center, o massificado, o impessoal; agora, o retorno da loja de calçada, os pequenos produtores, o artesanal, a proximidade. A experiência me faz pensar em um tipo de sociabilidade específica, construída a partir de novos hábitos e valores que permeiam um tipo de comportamento de consumo: meu, da minha geração e classe social.

Ali, colocamos em prática uma nova maneira de pensar a compra e a venda. Uma prática decorrente das mudanças socioculturais dos últimos anos, com seus traços próprios, mas uma prática que é ela mesma capaz de inaugurar novos modelos de interação e produzir novas formas de sociabilidade.

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