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Acordei meio de ressaca depois de uma noite mais longa e bastante etílica. Tinha lição de casa para fazer. Era o desafio 1 do curso de Antropologia do Consumo do Michel Alcoforado. O projeto era simples: ler um texto rápido e depois escrever sobre ele. #semerro

O texto falava sobre uma tribo indígena que eu facilmente já soube ilustrar na minha cabeça. Eram pessoas estranhas, masoquistas, com hábitos ora repugnantes ora excitantes. Estava tudo no texto bem detalhado e bem simples de entender. #semerro

Sabia que estávamos falando de alteridade, afinal, tinha prestado atenção nas aulas do bloco 1. Só conseguia pensar em como o antropólogo tinha identificado todos esses padrões dessa cultura sem os vivencia-los na pele. Como será que Horace Minner conseguia descrever com tanta riqueza de detalhes os rituais de uma tribo esquecida pelo mundo? Uma civilização tão diferente da nossa que eu nunca tinha ouvido falar? Alteridade era a resposta. Tudo muito fácil! #semerro

Lembrei que empatia seria burrice nesse caso específico. Não dá para tentar ser o que você não é. Imaginei que ele nunca tenha realmente participado de nenhum ritual de alargamento de buracos ou preenchimentos no rosto. Pensei que ele deveria estar muitos meses (quem sabe anos) anotando de longe tudo sobre os Nacirema. Ficava claro que eu já estava entendendo o mindset antropológico das primeiras aulas e estava adorando a sensação. #semerro

Resolvi começar a escrever o meu texto que seria mamão com açúcar: alteridade vs empatia e já era! Só que antes de escrever, por que não dar uma bisbilhotada no que os colegas de curso acharam dos Naciremas? Mal não faria!

Fui ler alguns textos antes de começar a minha lição de casa em si e era \"eita\" atrás de \"vixe\"! Como assim os Nacirema eram nós? Eles? Em que momento eu me perdi nessa parte da história, produção? #mimajudalusiano veio à tona. Só conseguia pensar no que eu ia inventar para mostrar que sempre soube que os Nacirema eram nós. Precisava de um mote #semerro para desenvolver.

Desisti de escrever o texto e fui me distrair. Passei a manhã pensando que era óbvio que os Nacirema eram nós. Quanto mais eu lia textos de colegas mais eu me convencia de que eu viajei na batatinha bonito.

Revivendo a leitura do texto, lembro de estar dentro da tribo, tentar viver no pensamento todas aquelas torturas que foram descritas. Ficou óbvio que meu pensamento empático se sobressaiu. Não consegui ter um mindset antropológico interpretando um texto. Fiquei imaginando que depois de duas horas de papo com o vendedor de tênis do Outlet de Miami, provavelmente, já estaria arrumando estoque na loja. Ficou claro no desafio 1 que alteridade é mais difícil do que eu imaginei e que não é nada sem erro, mas segue o baile!

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