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Olhar o diferente pode ser desafiador. Exatamente porque ele aponta o que nos falta ou nos sobra.

Repare: o problema não é a diferença do outro, mas o desconforto que ela nos causa. E por mais que não pareça, é uma sorte esses encontros existirem. Uma sorte meio incomoda, mas uma sorte.

Eu sei que adjetivar da pior forma possível o diferente é tentador, isso porque é simples, rápido e dá conta de despressurizar todo aquele desconforto que já combinamos que existe.

Se reconhecer nesse lugar de anti-herói é importante e não deve ser ignorado.

Até porque não é uma verdade absoluta.

Essa crítica é só nosso instinto de sobrevivência falando alto e de carona no antigo etnocentrismo - aquela mania de nos acharmos o centro do universo e o referencial para todas as coisas e pessoas.

Todo mundo já fez essa viagem.

A minha última veio com data e carimbo “Cringe”.

E na primeira parada, a etnocêntrica, não fugi da arrogância peculiar do ambiente e fiz o que era característico para o momento: debochei, ironizei, adjetivei. Repeti para mim mesma e para quem quisesse ler nas entrelinhas: “Como ousam chamar a nós, os participantes do bug do milênio, os primeiros habitantes das redes sociais e reiniciadores oficiais de modem, de “velhos”?

Mas para a viagem ser completa faltava uma segunda estação que é a grande chave para a convivência em sociedade e o que nos traz a redenção e um lugar menos sombrio: perguntar, “porque aquela classificação?” Por que usaram ela e por que comigo? “

Apelidos continuam sendo horríveis, mas entendê-los pode ser aliviador.

Nessa toada peguei o bonde do relativismo cultural, entendi a origem como sendo de jovens que buscavam se distanciar dos mais velhos, um movimento nada novo e muito conhecido por todos que já tiveram 16 anos algum dia. Não era sobre mim o termo não era sobre mim, mas sobre eles, sobre o que precisava ser expressado por aquela geração.

Mas não vou mentir: ainda me dói a orelha ouvir “cringe”, no entanto, hoje ouço de uma forma menos agressiva e perturbadora do que no início.

Mas dizem que é isso o grande ganho de viagens: acrescentar a todos que se permitem ter grandes experiências e enxergar novas formas de existir no mundo.

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