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As mulheres são seres reflexivos por natureza. A existência delas no mundo é por si só um manifesto político e de resistência. A estrutura social que as cerca e que determina o seu espaço é a mesma que necessita delas para se manter. Afinal, são as mulheres responsáveis pela manutenção da força de trabalho tanto no quesito de ser progenitora, como também o lugar social de ser a responsável pelo cuidado.

A estrutura social para elas é muito mais complexa que uma moldura. Está mais para uma caixa que as mantém em determinados papéis sociais e isso sem esquecer o teto de vidro que paira sobre as suas cabeças e as priva de uma ascensão que poderia, posteriormente, lhe garantir os recursos necessários para romper a estrutura.

É importante frizar que este não é um feito impossível, mas deve-se reconhecer que o esforço para contrariar a força que a sociedade exerce sobre elas pode ser um tanto cansativo. A sensação é semelhante a abrir uma matrioska (boneca russa que possui diversas camadas), só que ao invés de ser algo culturalmente divertido é algo também cultural, mas enfadonho.
Bordieu (1989) fala que à medida que o indivíduo acumula capital, ele pode ocupar uma posição de prestígio na sociedade. É possível relacionar os capitais econômico, cultural, social e simbólico que ele aborda com a dinâmica de poder para Focault (1978) em que ele afirma que o poder é exercido em rede e o indivíduo pode sofrer a sua ação ou exercê-la. Jamais sendo inerte. Quem possui mais capital, possui mais recursos e assim acumula poder.

Indo um pouco mais adiantes no tema poder, Thompsom (1995) classifica o fenômeno em quatro, sendo eles o poder econômico, político, coercitivo e simbólico. Logo, depois de entender toda essa dinâmica que envolve capital e poder é que fica tão nítido porque as mulheres são colocadas em caixas. Eles diminuem a condução do poder, mas não as impedem de sofrer a força quando alguma norma chega pressionando a caixa.

É preciso romper com a caixa e tomar para si o que nunca foi lhe dado. Por este motivo, eu destaco o empoderamento feminino como uma ferramenta essencial, sobretudo das nossas meninas. As crianças nasceram e cresceram vendo temas relevantes para o universo feminino sendo abordados e hoje são elas que fazem o uso de toda liberdade e poder conquistados pelas mulheres que vieram antes e todo o capital que está ao dispor delas para corromper essa caixa.

Para romper a estrutura social, se faz necessário o uso da dialética e um exemplo de menina que cresceu sabendo usar o diálogo ao seu favor, foi a MC Sofia que com 11 anos usou sua voz, rejeitou o racismo e levou empoderamento para crianças negras e com isso emocionou várias mulheres mais velhas que precisavam dessa referência quando era criança.

Em uma das músicas ela aborda que toda e qualquer menina pretinha é rainha e que exótica e/ou bonitinha são representações veladas de racismo. Em outra música ela reforça a liberdade que as meninas devem ter para brincarem do que quiserem e que a infância é um momento que toda criança deve aproveitar.

Não era comum abordar esses temas com crianças, tampouco ver uma criança abordando. Mc Soffia fez sucesso e foi aceita em um movimento que também é predominantemente masculino. Ela acumulou um conjunto de capitais e por meio do poder simbólico os transferiu para uma geração. O processo é antigo, porém serão essas meninas que vão romper as estruturas.
Reivindicar uma mudança deve ser constante e quanto mais sólida a estrutura, mais recursos o indivíduo precisa ter e acumular, uma vez que ir contra as estruturas exige muito esforço. Até porque para um grupo ou pessoa ganhar poder, ele deve ser retirado ou dado por alguém. E mais uma vez, a MC Soffia se faz necessária, porque antes de buscar aceitação da estrutura, ela busca trabalhar em si e é com o rap, um gênero que por si só existe para confrontar a sociedade, ela grita que não vai mais aceitar as coisas do jeito que estão. Afinal, uma menina reflexiva se aceita, mas não aceita tudo o que a estrutura quer para ela.
A MC Sofia é a representação de uma menina que cresceu com determinados capitais ao seu dispor, reconhece as estruturas ao seu redor e abraça a sua arte para confrontar os seus problemas e de um grupo social. Hoje, com 17 anos, ela e usa o seu lugar de fala para fazer o uso da reflexividade para confrontar o racismo, sexismo, machismo e a solidão da mulher preta para não ficar na caixa. Sua última música foi lançada no dia 26/07 um dia depois da celebração da no Dia da Mulher Negra.

Biografia:
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Difel, 1989.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Editora Paz e Terra, 1978.

THOMPSON, John. A Mídia e a Modernidade: Uma Teoria Social da Mídia. Editora Vozes, 1995.

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