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Como uma mulher ocidentalizada e inserida em um sistema opressor e de produção poderia ter uma boa relação com o seu próprio sangue? Durante muito tempo as mulheres foram ensinadas que a sua menstruação era algo sujo. A parte impura do sangue que é eliminada e tudo isso sem ao menos serem ensinadas a respeito do seu ciclo, sua vulva e quem dirá do seu prazer.
A menstruação foi capitalizada e nem todos podem arcar com ela. No Brasil 4 a cada 10 pessoas que menstruam sofrem com a pobreza menstrual* e isso reflete na informação e conhecimento sobre o próprio corpo.
Se tem uma coisa que uma mulher aprendia desde que menstruava, era ter vergonha deste momento. Os absorventes eram quase que contrabandeados e os casacos, presos à cintura para evitar marcas nas calças ou até mesmo ser marcada pelo sangue e pelos outros por estar menstruada. Isso sem falar das inúmeras propagandas que faziam questão de deixar a realidade do período menstrual o mais distante possível. Elas escancaravam para as mulheres o inatingível: andar seguro e firme com um vestido fino feito seda, exalando aroma de flores por todos os lados e um sorriso no rosto de quem não sente cólica alguma.
A realidade era sucumbida pouco a pouco e por mais que mensalmente o \"Xico\" viesse, as mulheres aceitavam a visita, mas não faziam questão de cuidar ou dar a devida atenção. Até que as coisas começaram a mudar. A moralidade foi se quebrando pouco a pouco. A força das mulheres passou a ser ovacionada e a menstruação ou a ausência dela passou a ser uma das representações mais marcantes e representativas.

As marcas de absorventes queriam ser posicionadas não como aquela que esconde o sangue ou o seu odor enferrujado, mas como a marca presente nas nuances de humor e claro, nas vitórias e momentos em que uma mulher se impõe. Os anos se passaram e por mais que o feminismo seja uma causa antiga, ele passou a ser moralmente mais aceito, pois aprenderam que era possível capitalizar com ele.

A capitalização dessas causas foi relevantes para o processo de aceitação da mulher consigo mesma e somado à livre distribuição de conteúdo que as redes permitem, as mulheres se aproximaram de discursos mais positivos com o seu próprio corpo, compreendendo conceitos como sagrado feminino, ginecologia positiva e prazer feminino.
Hoje as calcinhas reutilizáveis e os copos menstruais são muito mais difundidos e o contato com o sangue passou a ser um momento de reflexão e auto aceitação. No final, a descoberta libertadora é que sangue não fede, mas a maneira que ele fica nos absorventes convencionais que o fazem oxidar mais rápido e como é abafado, fica pior. Essas outras alternativas, além de sustentáveis foram responsáveis por várias mulheres falarem abertamente sobre o sangue e ficar mais tempo em contato com ele, pois essas alternativas de contenção duram mais que um absorvente descartável e tudo isso sem falar da segurança que eles trazem consigo.
Por fim, só gostaria de agradecer pela moral ter sido evacuada pelo ralo e o sangue feminino ter a sua chegada e ida bem mais aceita. A gente precisava.

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