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Ao assistir o documentário \"Edifício Master\", do diretor Eduardo Coutinho e compreendendo através de VELHO (1978) que “o meu conhecimento pode estar seriamente comprometido pela rotina, hábitos, estereótipos. Logo, posso ter um mapa mas não compreendo necessariamente os princípios e mecanismos que o organizam” (pág. 128) algumas situações me causaram estranhamentos. Vou apresentá-las aqui, já buscando fazer o exercício do relativismo.

1) o tamanho dos apartamentos:

Apesar de o enquadramento das entrevistas não mostrar o tamanho exato dos apartamentos, em alguns momentos quando a câmera circula acompanhando os entrevistados é possível perceber que o local é pequeno e que alguns ambientes são organizados sobrepostos (sala e cozinha sem delimitações, por exemplo). O estranhamento aparece quando imagino que por se tratar de Copacabana os aluguéis ou valores dos imóveis seja elevado e possa ser possível adquirir um imóvel maior e mais confortável nos demais bairros da cidade. Porém, ao me despir dos conceitos que tenho de “espaçoso” e “confortável” e das hipóteses por mim levantadas, é possível iniciar um processo de relativismo, ou seja, talvez para aquele grupo de entrevistados, morar em Copacabana se sobreponha ao fato de ter um espaço maior, talvez essa não seja uma necessidade ou desejo deles, talvez haja um apego com o imóvel… enfim, várias são as possibilidades e razões para que eles morem naquele prédio.

2) o fato de “pular da janela” ser considerado como uma solução

Duas entrevistadas mencionam que já pensaram em pular da janela de seus apartamentos, uma quando briga com o marido e a outra por se sentir sozinha. A última, uma senhora de idade, chega a detalhar o episódio e dizer que só não se jogou porque tinha boletos da C&A para pagar e sugere não achar decente morrer com dívidas. Novamente relativizando, acho que pode ser cultural falar em morte como uma solução ou uma forma de supervalorizar acontecimentos e sentimentos ruins, ou mesmo como forma de expressão como às vezes usamos: “quase morri”, “eu vou te matar”... Enfim, por ser um assunto delicado pra mim, me soa estranho que isso seja comunicado abertamente, principalmente em entrevistas onde não há uma relação sólida entre entrevistador-entrevistado.

3) a mulher que fala abertamente que faz programa

Uma mulher falando que ganha a vida e sustenta o filho sendo “garota de programa” em Copacabana, em pleno 2002. Esse foi um estranhamento e tanto. Ainda hoje se sabe o tabu e o preconceito que existe com essa profissão, por isso achei ousado (e muito incrível!!!!) que o assunto tenha sido abordado tão tranquilamente pela entrevistada. Relativizando, acho que o depoimento dela pode ter o intuito de auto-afirmação (como mulher e mãe que dá conta da sua vida), de ruptura dos padrões e expressar uma rebeldia.

4) a emotividade dos homens:

Dois entrevistados me chamaram muito a atenção: um se emocionou ouvindo e cantando uma música e o outro ao falar da saudade que sente da mãe. Normalmente emocionar-se não é algo tido como masculino, pois é associado a fraqueza e vergonha, mas no documentário são os homens que choram. Isso pode ter sido “aceito” pelo fato de serem pessoas de idade e pelo caráter de proximidade que o documentário traz.

5) o fato de morarem com pessoas que não são da família:

Há mais de uma situação em que os moradores relatam que a pessoa que mora com eles não possui vínculo sanguíneo, ou seja, são amigos. O estranhamento aqui é em razão da idade, tenho para mim que morar com amigos é coisa “de gente jovem”, de início de vida… No exercício de relativizar entendo que não há idade para amigos morarem juntos, que a estruturação de família está cada vez mais variada (ainda bem!) e que há muitos outros motivos para se morar junto além de dividir as contas.

Esses foram os principais estranhamentos que tive neste exercício e o maior aprendizado vem da seguinte constatação de Gilberto Velho:

“De qualquer forma, o familiar com todas essas necessárias relativizações é cada vez mais objeto relevante de investigação para uma antropologia preocupada em perceber a mudança social não apenas ao nível das grandes transformações históricas mas como resultado acumulado e progressivo de decisões e interações cotidianas”. (pág. 132).

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1) o tamanho dos apartamentos:

2) o fato de “pular da janela” ser considerado como uma solução

3) a mulher que fala abertamente que faz programa

4) a emotividade dos homens:

5) o fato de morarem com pessoas que não são da família:

Esses foram os principais estranhamentos que tive neste exercício e o maior aprendizado vem da seguinte constatação de Gilberto Velho:

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