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Adah sempre quis estudar. Sabia que nos livros, na leitura, estava a saída para uma vida melhor. Mas na Lagos dos anos 1960, e sobretudo na sua família, estudo era coisa de menino. Certas tradições nigerianas eram muito fortes e, como mulher, Adah deveria seguir seu papel e apenas saber costurar.

É nesse contexto que começa o livro “Cidadã de segunda classe” que discorre sobre a história da menina que queria mais do que só “aprender a escrever seu nome e talvez fazer umas contas”. E que, apesar de a vida lhe apresentar um campo de possibilidades restrito, mais parecido com um campo de obstáculos, persistiu, se adaptou, e foi atrás do seu projeto de vida.

Ainda bem nova, Adah convenceu seus pais a deixarem que frequentasse a escola, mas com a morte precoce do pai, foi separada da mãe e obrigada, pelos costumes locais, a morar com um tio, servindo a família e cuidando da casa. Então, novamente analisando o que a vida lhe proporcionava, decidiu se casar para não depender mais da família e, assim, conseguiu também um trabalho que lhe permitiu estar mais perto dos livros, sua grande paixão.

Mesmo com um marido machista e egoísta, que tomou para si a ideia de Adah de ir morar em Londres para terem melhores chances, contornou a situação e se juntou a ele um tempo depois. Levou os filhos e o pouco que conseguiu economizar enquanto mantinha a família em Lagos e bancava a vida do marido em Londres.

Chegar à capital britânica foi um choque e não demorou muito para Adah ver que ela era uma “cidadã de segunda classe”. Afinal, além de mulher, ela era negra em uma sociedade de brancos, e imigrante em uma cidade onde os cidadãos ingleses já sofriam para ter seus direitos garantidos.

Analisando a biografia da personagem, que se confunde com a da autora, Buchi Emecheta, nessa história quase autobiográfica percebemos que Adah, de alguma forma, tinha dentro de si a busca por sua individualidade, o desejo de conquistar seus próprios sonhos e ser a protagonista. Por mais que seu círculo quisesse que ela se mantivesse como “divídua”, seguindo as tradições, apenas mantendo seu papel dentro do grupo.

Pesquisando um pouco sobre a vida de Buchi, vemos que ela trabalhou bem com os campos de possibilidades que surgiram, atravessando várias metamorfoses ao longo de sua trajetória para alcançar seu projeto de vida de tornar-se escritora.

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