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Em 2017, eu fiz um estágio para recém formados e estudantes de graduação em um estúdio de design na Holanda. O programa era composto por jovens tanto europeus, quanto não europeus vindos de diversos países do mundo. Quem optasse, poderia morar na moradia oferecida pelo programa onde iria morar com outros participantes, meu caso.

Cheguei em Amsterdam me sentindo em casa porque já tinha feito intercâmbio no país. No dia seguinte conheci uma das mulheres com quem ia dividir o apartamento. Ela era da Espanha e nos identificamos muito por conta do nosso histórico. Com o tempo, fomos vendo que nossa cultura era muito parecida, o que já era esperado. Logo depois, conhecemos uma finlandesa com quem também iríamos dividir o apartamento.

Poucos dias depois, recebemos uma indiana, a quarta integrante do grupo. Ela era um amor, conversamos muito e nos divertimos muito também. Só que no início o seu jeito me causava muito estranhamento. Ok, não muito... Mas era muito difícil não lembrar de Caminho das Índias quando ela falava balançando a cabeça, ou a entonação do sotaque típico. Nada disso me incomodava, mas no início eu ficava confusa por não saber como lidar com aquilo com naturalidade e sem lembrar dos estereótipos da mídia ocidental.

O ápice do estranhamento foi logo quando nos conhecemos. Eu estava no meu quarto e ela chegou me ofereceu um biscoito indiano, sentou no chão e colocou o prato no chão e ficou conversando comigo. Eu me senti o verdadeiro meme da Nazaré com os cálculos na cabeça tentando processar a situação. Depois fiquei conversando e comendo o biscoito, mas na hora deu tilti porque não esperava. A mesma confusão mental acontecia quando ela balançava a cabeça, porque eu não conhecia aquele código.

Agora, tão curioso quanto é que o meu grupo de trabalho do estágio era com essa moça indiana que é de Goa e uma outra indiana de Mumbai, que já morava há um tempo nos Estados Unidos. E eu conseguia ver muito bem como uma tinha um comportamento ocidental e a outra carregava comportamentos da Índia ainda muito marcados. Com o tempo, percebi que a moça que veio direto da Índia já não carregava tantos traços da sua cultura de origem, inclusive, ela me contou que começou a se policiar sobre eles e que percebia a minha confusão 🙈.

Bom, no final deu tudo certo. Ficamos amigas e até hoje nos falamos <3

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