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Fenômeno midiático recente, Gil do Vigor ilustra o conceito de homo duplex de Émile Durkheim. A sua trajetória no BBB 21 mostra o sujeito em tensão com a sociedade da qual faz parte, contrapondo desejos individuais com pressões sociais oriundas de diversas esferas, como família, religião, trabalho, etc.

De origem humilde, Gil do Vigor esteve desde cedo constrangido aos imperativos morais que regem o seu meio social. Foi a partir da introjeção de um vocabulário sociocultural específico que Gil do Vigor formou a sua subjetividade. Os costumes da sociedade pernambucana machista e patriarcal lhe informavam desde muito cedo como deveria ser: trejeitos femininos eram rejeitados em favor de uma postura \"masculina\", condizente com aquilo que esperam de um corpo \"de homem\". Na igreja, as regras daquela instituição também impuseram os códigos nos quais Gil iria se apoiar para realizar as suas escolhas pessoais. Os ensinamentos religiosos, as normas e rituais dos mórmons diziam fortemente qual deveria ser a sua conduta social. No meio acadêmico no qual buscou construir sua carreira, ele também precisou moldar o seu comportamento para se encaixar em um núcleo marcadamente \"masculino\", com hábitos e disposições próprios.

Receoso das represálias que poderia sofrer caso não cumprisse as expectativas da sociedade, Gil vivia o dualismo característico do seu tempo: a necessidade de se submeter ao peso do \"todo\" combinada à emergência das vontades e desejos individuais. Racionalmente, Gil pensava que o lado social deveria se impor aos desejos da experiência individual, mas cada vez mais caminhava para o descumprimento da \"cartilha\" coletiva.

Ao chegar ao reality show, Gil deixou clara a ambiguidade de sua constituição. Aferrava-se a todo o seu vocabulário social para interpretar o contexto, mas ao mesmo tempo deixava aflorar o indivíduo e suas particularidades. Ao assumir sua orientação sexual e performar comportamentos que iam de encontro à construção social do seu meio de origem, Gil inaugurou para si um novo momento, em que a conciliação entre o individual e o coletivo poderia achar uma saída. Foi correndo risco de ser encarado como um \"desviante\" e ser rejeitado pelos membros do seu ethos que Gil expôs o antagonismo no qual todos vivemos: o cabo de guerra entre o eu individual e o eu coletivo, os limites entre cada um deles e as formas possíveis de se encontrar um equilíbrio.

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