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O café faz parte da cultura do brasileiro, porém por muito tempo o café conhecido era aquele coado no pano e quanto mais escuro, melhor. Depois o brasileiro foi apresentado às cápsulas, e depois, de uns anos para cá, expandiram o gosto por cafés especiais, com torrefações diferentes, aromas diferenciados e modos de preparo também.
O brasileiro moderno passou a querer não só consumir cafés especiais, mas também mostrar para o mundo por meio do Instagram, como tinha \"bom gosto para apreciar café\" e claro, que entendia sobre. Atire a primeira pedra quem não tem um amigo que passou a entender tudo de café e fazer até curso de barista para fazer o seu próprio Cold Brew ou entender os diferentes métodos de coamento.

Some a popularização deste bom gosto com a crescente oferta de cafeterias aconchegantes e instagramáveis, aromas, sabores e métodos disponíveis e pronto! O café no copo de requeijão já não era mais o único café que a gente conhecia. O brasileiro passou a querer consumir o melhor, e convenhamos quem nunca ficou abismado na aula de história ao saber que o Brasil exportava os melhores grãos ficando só com os restos e galhos? Pois bem, essas crianças cresceram e agora são os consumidores e frequentadores dessas cafeterias cult.

O café que já era sagrado passou a ser mais cultuado ainda e ter inúmeras representações e diferenciações. Para se ter noção, o preparo de um bom café inicia-se no cultivo e vai até o preparo. É um processo minucioso e que mesmo quem entende cada passo, sabe que não é um processo comum. Você não pode deixar o pó queimar, se prensar você extrai mais as propriedades e só porque o café não é preto não significa que ele não é bom. Um verdadeiro apreciador bebe sem açúcar e sabe que moendo os grãos na hora, o sabor fica mais concentrado...
A procura pela qualidade e sensações que a bebida pode oferecer está em alta e com isso pequenos produtores, torrefadores, baristas e donos de cafeterias têm se beneficiado. Uma pesquisa realizada pelo Sebrae, revela que 52% dos profissionais da cadeia produtiva do café especial no Brasil estão há no máximo cinco anos nesse ramo e já representam 44% da produção total. A maioria com um perfil mais jovem, mostrando como essa geração não só valoriza a especiaria, como também quer o melhor dela para si e seus semelhantes.

Esse novo consumidor transformou café em um feitiche que agora existe uma categoria especial e um jeito certo de produzir e consumir que os amantes fazem questão de apresentar. Afinal, é comum nas cafeterias ter uma descrição minuciosa nos cardápios ou uma pessoa destinada para explicar a diferença de cada safra e cada tipo de coamento para que o cliente não se arrependa e tenha uma experiência positiva. Afinal, quando gostamos tanto de algo é comum querer que outras pessoas se simpatizem.
Entretanto, ao mesmo passo que as pessoas conhecem os processos, há um apagamento na medida que este produto é finalizado e consumido. Justamente por ser muito especial, a experiência final é o que as pessoas costumam lembrar. Esse comportamento mostra como os consumidores atribuem um poder quase que sobrenatural ao café que ele se torna um feitiche, de acordo com a lógica de Latour (2002). É um ritual único em que a safra que jamais será a mesma, o momento é sempre divino, é uma experiência para que tem experiência

Essa busca pelo especial reflete inclusive no aumento da produção de produtos orgânicos e com o selo de Indicação Geográfica, que determina como aquela matéria prima é especial e única. Um quarto dos produtores de cafés especiais tem selo de IG e outros 10% já estão produzindo cafés orgânicos, diz o presidente do Sebrae.
Essa geração foi do culto ao cult e por meio deste processo devolveu ao Brasil o que lhe pertence. Eles acreditam que o divino deve ser de todos, desde que saiba apreciar.

Referências Bibiográficas:

LATOUR, B. Reflexão sobre o culto moderno dos deuses fe(i)tiches Bauru, SP: EDUSC, 2002.

Economia SC - Busca por qualidade e aromas amplia o mercado nacional e internacional do café. 2021. Disponível em: <https://www.economiasc.com/2021/05/24/busca-por-qualidade-e-aromas-amplia-mercado-nacional-e-internacional-do-cafe/ >

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