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Equilibrar quem somos com quem a sociedade quer que a gente seja é bem cansativo em circunstâncias normais. Imagine como deve ser para uma pessoa que tem como seu eu individual um assassino em série sociopata. Sim, é uma situação extrema e (a princípio) fictícia, mas é o que se passa com o Dexter Morgan.

Dexter é o protagonista da série que leva seu nome. É analista forense da polícia de Miami, com um perfil bem específico de atuação: especialista em padrões de dispersão de sangue em cenas de crime. É um profissional dedicado, com um círculo social enxuto mas consistente. O que ele guarda para si, no entanto, é seu lado sombrio, um desejo extremo de matar.

Como teorizava Émile Durkheim, queremos fazer valer nosso eu individual, mas a sociedade, com seus fatos sociais, impõe regras, moralidades e formas de pensar que são maiores e mais fortes que nós.

No caso do nosso personagem, esse eu individual era chamado de “passageiro sombrio”, e estava presente desde sua infância, quando ele expressava seu ímpeto com insetos e pequenos animais. Mas o passageiro seguiu presente e, na tentativa de protegê-lo, Harry, seu pai adotivo, o ensinou alguns códigos que ele deveria seguir para que nunca fosse pego. Entre eles, ter como foco apenas criminosos, pessoas que fizeram mal a outras pessoas, e cujo “sumiço” não seria de todo ruim.

O que Harry fez nada mais foi do que pautar, desde cedo, seu comportamento dentro daquilo que a sociedade esperava dele. Bem Durkheimiano.

As outras escolhas de vida de Dexter também seguiram essa pauta. Se a sociedade exigia que ele tivesse um emprego para se encaixar e seguir dentro desta construção social, ele foi optar por um que permitisse a expressão de seu “eu” e facilitasse o acesso a ocorrências policiais (e aos criminosos). Da mesma forma, mesmo não gostando de socializar e interagir com outras pessoas, ele foi buscar amizades, um relacionamento amoroso, e eventualmente até construiu uma família para criar seu círculo social e manter as aparências.

Se entendemos uma sociedade pela forma como seus indivíduos seguem os fatos sociais, mas também pela forma como vão contra eles, Dexter é um belo exemplo desse grupo de indivíduos desviantes. Por mais que ele tente de todas as formas seguir as regras da sociedade, seu passageiro sombrio o leva a quebrá-las todas cedendo aos seus impulsos.

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