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Um vírus se espalhou pelos ares e atingiu o mundo em pouco tempo. Ele está pelo ar, circulando por aí e nós seres humanos só queremos sobreviver. O que seriam 15 dias já vai fazer o seu segundo aniversário em breve e as pessoas estão mudando constantemente a perspectiva do que é necessário para enfrentar esse caos.

No começo, o medo era algo tão palpável que as pessoas até pensaram que era algo coletivo. Vídeos falando que o vírus não escolhia classe social eram compartilhados via WhatsApp na mesma medida que as vaquinhas e fake news também. A força das panelas batendo davam uma esperança e o discurso falado por aí era de que estávamos todos no mesmo barco. A diferença é que depois alguns foram postos para fora sem bote salva-vidas.

Sem dúvidas a pandemia alterou a perspectiva do que era necessário para passar por ela e rebaixou itens que antes não vivíamos sem para superfluos. Essa segmentação não veio no Manual do Novo Normal, pois ela não seguiu um padrão. Ela dependeu, na verdade, de variáveis como classe social e outros fatores culturais. Para o rico o necessário era manter a empregada em casa para que ela pudesse fazer unha. Para a classe média uma cadeira para trabalhar mais confortavelmente e um bom wi-fi talvez. Agora para o mais pobre, o necessário mesmo era o arroz e feijão no prato.

A pandemia criou novos contextos e até hoje cria na medida que ainda passamos por ela. Ela não acabou e somos seres sociais. Estamos em um processo contínuo em que as pessoas e as coisas ao nosso redor ganham novos significados a cada dia. Quem não viu explodir por aí as dicas de decoração e amigos colocando a mão na massa? Muitas pessoas passaram a se incomodar com suas próprias casas. Da mesma forma que marcas de roupa fizeram máscaras combinando com o look ou uma linha confy para o conforto de casa, pois os mais ricos não estavam acostumados a ter a categoria de roupas de ficar em casa. O consumo não parou na pandemia, ele apenas mudou algumas direções.

Neste momento, as pessoas apenas estabeleceram uma nova ordem dos seus desejos baseado no que elas acreditavam que iria auxiliar ou deixar esse momento mais prático. Isso é cultura! Aquilo que as pessoas acreditam pautado na sua trajetória, interações e modo de ver o mundo ao seu redor.

Marshall Sahlins (1979) entende que o capitalismo é um sistema cultural formado por símbolos, valores, linguagem e normas sociais que são criados na medida que as pessoas interagem umas com as outras e com as coisas. Hoje, cerca de um ano e meio depois de declarar o lockdown algumas pessoas ainda não entenderam a necessidade do uso de máscara e do distanciamento. Há quem procure por ajuda psicológica para aguentar o fardo, há pessoas que simplesmente têm a real necessidade de se expor para só assim poder garantir o seu sustento e, infelizmente ainda há pessoas que fazem uma classificação das prioridades pautadas apenas em benefício próprio e desta forma acreditam precisar de uma baladinha ou um barzinho com os amigos para aliviar a tensão.

Chega a ser engraçado o fato de nós não podermos generalizar essa categorização de prioridades para os indivíduos. Porém, quando se trata de uma pandemia, há um limite para essa liberdade de escolhas. Afinal, o momento pelo qual passamos configurou a sociedade de tal forma que foi necessário exigir dela uma determinada conduta de segurança e claro, a colaboração de todos. O que até hoje não foi feito aqui no Brasil. Essa contestação, inclusive, me faz questionar como uma sociedade que já está quebrada vai definir o que ela vai precisar no futuro. Será que quando chegar a hora, farão o necessário para sairmos desse abismo?

Biografia:

Sahlins M. CULTURA E RAZÃO PRÁTICA. [S. l.]: Zahar, 1974.

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