{"status":200,"response":{"result":"PUBLIC_ARTICLES_RETRIEVED","data":{"count":1,"content":[{"id":"5ffca191b2da17613671aca0","updated":"2021-01-12T18:00:19.886Z","created":"2021-01-11T19:05:53.376Z","statuses":{"approval_status":"approved","publish_status":"published","visibility_status":"public","has_pending_changes":false,"is_pinned":false,"is_paywall_disabled":false,"scheduled_date":null,"rejection_reason":null},"metadata":{"location":"home","location_slug":"blog","content_type":"post","publish_date":"2021-01-12T18:00:20.063Z","likes_count":0,"bookmarks_count":0,"comments_count":0,"score":"2021-01-12T18:00:20.063Z","sharing_title":"O tic tac da angústia","sharing_description":null,"sharing_image":"https://5f1ae31a2b397e299b74e383.redesign.static-01.com/f/images/662d8a8ab13193e9fc2bc09a5485a64a71d76672.png","tag_ids":["5fa93e8322239f6c57eea52f","5ffca191b2da17613671ac9d","5ffca191b2da17613671ac9e","5ffca191b2da17613671ac9f"],"author_user_id":"5f7fb42855a88b25bde3cdb6","moderator_user_id":"5f8ddcae6452e87432b42d25","project_id":"5f1ae31a2b397e299b74e383","course_id":null,"course_module_id":null,"group_id":null,"version":1,"tags":[{"id":"5fa93e8322239f6c57eea52f","title":"angustia","slug":"angustia","project_id":"5f1ae31a2b397e299b74e383"},{"id":"5ffca191b2da17613671ac9d","title":"tictac","slug":"tictac","project_id":"5f1ae31a2b397e299b74e383"},{"id":"5ffca191b2da17613671ac9e","title":"espera","slug":"espera","project_id":"5f1ae31a2b397e299b74e383"},{"id":"5ffca191b2da17613671ac9f","title":"despertar","slug":"despertar","project_id":"5f1ae31a2b397e299b74e383"}]},"content":{"title":"O tic tac da angústia","slug":"o-tic-tac-da-angustia","cover_image":"https://5f1ae31a2b397e299b74e383.redesign.static-01.com/l/images/662d8a8ab13193e9fc2bc09a5485a64a71d76672.png","headline":"É domingo, 2021 começando, eu pedindo leveza e o telefone toca: “Senhora Lara o seu pai deu uma pioradinha e nós estamos descendo com ele para UTI. Você poderia vir","main_content":"

É domingo, 2021 começando, eu pedindo leveza e o telefone toca: “Senhora Lara o seu pai deu uma pioradinha e nós estamos descendo com ele para UTI. Você poderia vir aqui para pegar os pertences dele?” E, desde então, sinto cada tic tac do meu coração na garganta. Tudo que eu ouvia na televisão, os testemunhais nos rádios, pronto, eu estava vivendo tudo aquilo. Corremos para o hospital, eu e minha irmã, com luvas, 3 máscaras, capas de chuvas, álcool gel, paninhos embebedados no álcool 70, parecíamos duas alienígenas. Ao chegar subimos correndo para o 5° andar, andar da UTI: “Por favor, somos filha do Nestor, ele acabou de dar entrada, queremos falar com o doutor.” E com a cara mais angelical do mundo a enfermeira responde para aguardarmos um pouco que o médico já vinha. Como falar para duas filhas alienígenas desesperadas aguardar? É incrível como estas pessoas que trabalham em hospital parecem aquele pessoal de telemarketing. Eles são meio blasé, como quem diz, o problema é seu, entra na fila que temos regras. Começo a andar pelo perímetro do andar, aquele ar congelante, aquela luz branca, um cheiro de limpeza extrema, um entra e sai de médicos e enfermeiras, com seus uniformes: médico/verde, enfermeiros/azul. “Lica acho que eu vou buscar as coisas do pai.” E ela responde irritada: “Mas e se o médico vier?” Logo consenti, na verdade, acho que queria fugir, não queria escutar, não queria acreditar... e o tic, tac batendo descompassado, enlouquecido. De repente, aparece o médico e começa a explicar com toda a calma do mundo a situação. Me bate uma raiva, estou revoltada e ele com a frieza, que se igualava a temperatura do ambiente. Depois de nos inteirar da situação, que não fugiria da intubação, pedimos para vê-lo. Primeiro entra minha irmã, mais velha, mais adulta, mais forte. Eu fico andando pelo mesmo perímetro, agora mais rápido, em prantos, pedindo, implorando, suplicando para que Deus me desse um pouco de controle emocional e eu aparece forte para meu papito, para que eu emanasse força para ele e não ao contrário, o que seria muito difícil, pois o bichinho já estava sem forças de tanta força que fazia para respirar. Assim foi, nestes momentos erguemos forças das entranhas, trocamos olhares, ele fez um jóia. E desde então espero por ver este jóia novamente. E é ao som de Vinícius de Moraes que espero ele despertar:
“Passa, tempo, tic-tac
Tic-tac, passa, hora
Chega logo, tic-tac
Tic-tac, e vai-te embora
Passa, tempo
Bem depressa
Não atrasa
Não demora
Que já estou
Muito cansado
Já perdi
Toda a alegria
De fazer
Meu tic-tac
Dia e noite
Noite e dia.”

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