{"status":200,"response":{"result":"PUBLIC_ARTICLES_RETRIEVED","data":{"count":1,"content":[{"id":"5fadd03f957bba73d5042416","updated":"2020-11-13T14:04:08.602Z","created":"2020-11-13T00:15:58.896Z","statuses":{"approval_status":"approved","publish_status":"published","visibility_status":"public","has_pending_changes":false,"is_pinned":false,"is_paywall_disabled":false,"scheduled_date":null,"rejection_reason":null},"metadata":{"location":"home","location_slug":"blog","content_type":"post","publish_date":"2020-11-13T14:04:08.795Z","likes_count":0,"bookmarks_count":0,"comments_count":0,"score":"2020-11-13T14:04:08.795Z","sharing_title":"Acorda, garota.","sharing_description":null,"sharing_image":"https://5f1ae31a2b397e299b74e383.redesign.static-01.com/f/images/ce2e8545b8b8ecb946aa1dec25de8ca7b22278ce.jpg","tag_ids":["5f8dfa116452e87432b435a1","5fadd03e957bba73d5042412","5fadd03f957bba73d5042413","5fadd03f957bba73d5042414","5fadd03f957bba73d5042415"],"author_user_id":"5f76627a3a124d3333c2e242","moderator_user_id":"5f8ddcae6452e87432b42d25","project_id":"5f1ae31a2b397e299b74e383","course_id":null,"course_module_id":null,"group_id":null,"version":1,"tags":[{"id":"5f8dfa116452e87432b435a1","title":"julgamento","slug":"julgamento","project_id":"5f1ae31a2b397e299b74e383"},{"id":"5fadd03e957bba73d5042412","title":"preconceito","slug":"preconceito","project_id":"5f1ae31a2b397e299b74e383"},{"id":"5fadd03f957bba73d5042413","title":"etnocentrismo","slug":"etnocentrismo","project_id":"5f1ae31a2b397e299b74e383"},{"id":"5fadd03f957bba73d5042414","title":"animal","slug":"animal","project_id":"5f1ae31a2b397e299b74e383"},{"id":"5fadd03f957bba73d5042415","title":"dependencia","slug":"dependencia","project_id":"5f1ae31a2b397e299b74e383"}]},"content":{"title":"Acorda, garota.","slug":"acorda-garota","cover_image":"https://5f1ae31a2b397e299b74e383.redesign.static-01.com/l/images/ce2e8545b8b8ecb946aa1dec25de8ca7b22278ce.jpg","headline":"O que posso dizer do meu comportamento interno, dos diálogos que tive comigo mesma durante todo o tempo em que estive diante daquela mulher, mãe, profissional, nora? Que pessoa horrível","main_content":"

O que posso dizer do meu comportamento interno, dos diálogos que tive comigo mesma durante todo o tempo em que estive diante daquela mulher, mãe, profissional, nora? Que pessoa horrível eu sou! Foi isso que senti em 2012 quando voltei para o hotel naquele dia quente em Campinas.

Eu jamais deixaria uma cachorra minha confinada num espaço tão triste. Não colocaria uma placa falando em Deus sendo alguém tão insensível. Não mentiria para uma entrevistadora sobre meu jeito tão amoroso e preocupado com a família, incluindo a cachorra se isso não fosse verdade. Não diria que a rotina de limpeza era a mesma com a presença da cachorra circulando no mesmo espaço que a neném. Eu não me sentiria tão livre para dizer que gosto de passear no shopping e aproveitar o tempo em família - dentro ou fora de casa - sabendo que tem uma cachorra confinada e triste no meu quintal. Eu jamais teria um animal confinado (e maltratado?) somente pra dizer que tenho e amo os animais.

Confesso que só me dei conta desse pacotão etnocêntrico [etnocentrismo, julgamento precipitado, preconceito], que agora ganhou esse nome chique, quando o outro lado da história se revelou e eu pude ver essas verdades do que era errado escaparem entre meus dedos como areia.

Aquela mulher era uma jovem que gostava muito de dançar pois, segundo ela, a dança tinha um componente social muito interessante e permitia estar entre pessoas com alegria. Foi assim que conheceu seu marido e constituiu a família. Agora com uma criança, eles saíam menos, mas dançavam em casa. Ela foi uma adolescente que sonhava em ter seu lar, um lugar para viver as alegrias de ter uma família, receber amigos, ouvir música, ser feliz e completa. Para isso, tinha que ter também um bicho, já que ela toda vida teve e valorizou a relação com os animais. Um ser que ela considerava parte da família e que, nesse caso, estava na sua vida antes do marido e da criança.

Nem tudo aconteceu como ela esperava. A situação econômica fez com que ela e o marido aceitassem viver na mesma casa que a sogra, dona do imóvel, com todos os ônus e bônus que isso traria. E, em nome da família, ela encarava isso com alegria.

Sua cachorra circulava livremente, muito dócil e feliz com os novos integrantes que foram chegando na relação com sua tutora - um marido, uma sogra, uma criança. Até o dia que, num momento de euforia, essa cachorra subiu na perna dessa sogra e a derrubou, quebrando sua bacia. Desde então, a ordem da dona do imóvel (sogra, que morava no andar de cima da casa), era a cachorra presa.

\"Ou a cachorra presa, ou fora daqui\".

O olhar da entrevistada quando me contou isso. As lágrimas nos seus (e nos meus) olhos. O momento que realizou pra ela mesma que sua fiel companheira não poderia mais ter a vida livre e espaçosa de sempre, que a relação entre as duas passaria por uma mudança de dinâmica espacial por imposição de terceiros e porque outras coisas fundamentais estavam em jogo (a casa, o dinheiro, as contas, a infraestrutura da família). Nós duas neste momento de conexão profunda nos fundos da lavanderia falando baixinho. E todo o meu comportamento etnocêntrico indo para o ralo. Esta situação me fez entender na pele a necessidade de deixar o etnocentrismo (agora aprendi esse termo chique) de lado se eu quiser olhar as coisas com mais clareza e proximidade (alteridade) o outro.

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