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Desde que o mundo é mundo, o homem vem criando coisas para facilitar a vida. Carros, máquinas, celulares. E tudo isso só existe graças a nós, é fato. Uma mesa não se montaria sozinha.

E se formos analisar, nos orgulhamos muito disso. Somos os únicos seres vivos capazes de criar e transformar os materiais em alguma outra coisa, seja útil ou apenas para deleite. Portanto, estes estão submetidos às nossas necessidades e vontades.

Daniel Miller, antropólogo britânico, já tem um ponto de vista bem diferente em relação à essa submissão. Por mais que os objetos tenham sido inventados, também são responsáveis por nos inventarem.

É uma relação de mão dupla: não tem uma coisa sem a outra.

Provavelmente, você está lendo esse texto através de um celular ou computador. Já parou para pensar o que seria da sua vida sem esse objeto? Ou sem carros, sem roupas, sem relógios e sem sapatos?

Esse é o ponto. Não sabemos viver sem nossas criações, não só porque precisamos delas, mas porque elas nos fazem ser quem nós somos. Estamos submersos em um mundo repleto de coisas para comprar e adquirir, que nem nos damos conta da nossa quase inexistência se tudo sumisse. Bem, nossos corpos ainda estariam aqui, mas seríamos as mesmas pessoas sem as coisas que usamos todos os dias? Ou sem aquelas que usamos só de vez em quando queremos nos sentir especiais?

Por mais que pensemos que os objetos são inanimados, possuem um domínio maior sobre nós do que nos damos conta.

As coisas fazem e revelam quem somos. E essa construção está ligada diretamente a cada cultura. No Ocidente, existe a construção de que uma noiva não é uma noiva sem o vestido branco, ou seja, uma coisa faz uma pessoa.

Uma roupa diz muito sobre nós. Qual é a classe social, estilo, preferência. E fomos nós que criamos todas elas, mas em troca elas também nos fazem ser quem nós somos.

Miller trás outro ponto importante sobre esse tema. O de que as coisas de uma cultura não devem ser olhadas pelo uso ou importância que têm em outra cultura. Se uma mulher indiana olha para um vestido branco de noiva ocidental, ela não dá a mínima importância para esse vestido. Na Índia, um vestido branco não faz de uma mulher uma noiva, mas uma viúva. Pessoas viúvas usam roupas brancas porque essa cor simboliza o desapego às coisas materiais. O vestido da noiva indiana tem que ser um sári vermelho, cor que representa riqueza e sexualidade. Isso quer dizer, que as coisas fazem as pessoas dentro da lógica de cada cultura.

Os objetos não são universais. Cada um tem uma importância específica dentro de cada contexto social.

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Por mais que pensemos que os objetos são inanimados, possuem um domínio maior sobre nós do que nos damos conta.

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