{"status":200,"response":{"result":"PUBLIC_ARTICLES_RETRIEVED","data":{"count":1,"content":[{"id":"603ea04850ee111846943bf5","updated":"2021-03-08T15:45:24.127Z","created":"2021-03-02T20:29:59.934Z","statuses":{"approval_status":"approved","publish_status":"published","visibility_status":"public","has_pending_changes":false,"is_pinned":false,"is_paywall_disabled":false,"scheduled_date":null,"rejection_reason":null},"metadata":{"location":"home","location_slug":"blog","content_type":"post","publish_date":"2021-03-08T15:45:24.300Z","likes_count":0,"bookmarks_count":0,"comments_count":0,"score":"2021-03-08T15:45:24.300Z","sharing_title":"Comer, rezar, espirrar?","sharing_description":null,"sharing_image":null,"tag_ids":["5f8ce35381b1363685a631c0","5fc3ba6c44e0e02c21bb2f37","603ea04850ee111846943bf3","603ea04850ee111846943bf4"],"author_user_id":"5e9fad23ac6c4c0763e2cbf5","moderator_user_id":"5f8ddcae6452e87432b42d25","project_id":"5f1ae31a2b397e299b74e383","course_id":null,"course_module_id":null,"group_id":null,"version":1,"tags":[{"id":"5f8ce35381b1363685a631c0","title":"estranhamento","slug":"estranhamento","project_id":"5f1ae31a2b397e299b74e383"},{"id":"5fc3ba6c44e0e02c21bb2f37","title":"etnografia","slug":"etnografia","project_id":"5f1ae31a2b397e299b74e383"},{"id":"603ea04850ee111846943bf3","title":"como conhecer o outro","slug":"como-conhecer-o-outro","project_id":"5f1ae31a2b397e299b74e383"},{"id":"603ea04850ee111846943bf4","title":"budapeste","slug":"budapeste","project_id":"5f1ae31a2b397e299b74e383"}]},"content":{"title":"Comer, rezar, espirrar?","slug":"comer-rezar-espirrar","cover_image":null,"headline":"Foi durante o verão de 2015 do Hemisfério Norte que entrei em um lugar que era uma mistura de cafeteria com bistrô e me sentei para realmente comer bem, pela","main_content":"

Foi durante o verão de 2015 do Hemisfério Norte que entrei em um lugar que era uma mistura de cafeteria com bistrô e me sentei para realmente comer bem, pela primeira vez em algum tempo, desde que havia pisado os pés, quase um mês antes, na tal da Europa.

Estava em uma mesa mais alta, sentada em um banco de onde podia sentir o sol, observar de relance as ruas de Budapeste e vasculhar todo o interior, principalmente para ver o que as pessoas pediam para comer e beber.

Talvez seja uma coisa de quem tem sol e ascendente em Touro, mas acostumei a desde cedo olhar para o que as pessoas comem, seja para pedir um igual porque “está com a cara tão bonita”, seja para entender que aquele prato definitivamente não é para mim.

As paredes do lugar eram de um tom verde menta, essa tendência que virou febre acredito que do ano passado para cá, e alguns docinhos e pães ficavam expostos em vitrines interiores com uma iluminação tão impecável, que só dava para ouvir a barriga gritar “eu quero um desses”.

Depois de olhar um pouco e sentar, enfim, em um lugar mais alto, não por escolha própria, comecei a reparar que I) um dos garçons do lugar, o que me atendeu, ficava me olhando de uma forma estranha; e II) o pessoal sentado no meu lugar dos sonhos (um sofá branco com a cara tão tão tão aconchegante, que parecia que me abraçaria naturalmente, junto a uma mesinha de centro de madeira para colocar a comida e o que mais quisesse) não iria se levantar e ir embora antes de mim por nada.

Tive que me conformar que não sentaria naquele lindo sofá, nem seria abraçada por seu aconchego ou me arriscaria a tirar um cochilo ali quase sem querer naquele dia e, provavelmente, em nenhum outro dia da minha existência.

Era um quarteto do que aparentavam ser amigos. Não lembro de todos, mas lembro que havia uma mulher ruiva e um moço de traços asiáticos e eles conversavam ligeiramente alto. No maior estilo “brasileiro não desiste nunca”, eu olhava com cara de “oi, tudo bom? Quando vocês pretendem levantar e ir embora desse lindo sofá?” sem sucesso nenhum.

Resolvi me conformar e voltei minha atenção a tentar entender o que o garçom, de cabelos enrolados pretos e com um avental cinza com detalhes em verde menta, estava querendo ou pensando. \"Será que é o meu sotaque?\", cheguei a pensar, mas logo fui interrompida por um espirro tão estrondoso que achei que alguma parede ia desabar ali mesmo.

Era um dos caras do grupinho do sofá e eu não conseguia parar de olhar mais para lá. Ele não só havia dado um espirro que dava para ouvir na minha casa, aqui no Brasil, como ele começou a fazer barulhos para assoar o nariz ali mesmo, no meu sonhado sofá, perto de outras pessoas que não só os amigos dele e com comida na mesa de centro ali perto.

Queria dizer que sim, eu sei disfarçar qualquer expressão facial. Mas, não, eu não sei disfarçar. Meu rosto reflete muito do que eu sinto, penso e percebo. E lá foram meus olhos pulando pra fora do rosto, em total choque com o que estava acontecendo.

Como assim ele está assoando o nariz daquele jeito ali? Gente, que loucura — eu pensava. Não entendi porque ele simplesmente não segurou com um guardanapo o nariz e foi ao banheiro cuidar do que precisava cuidar. Parecia tão básico para mim.

Mas aí um espanto maior me ocorreu: ninguém, absolutamente ninguém, parecia se importar na cafeteria/bistrô. Só os meus olhos saltaram, os de mais ninguém. O garçom parado em frente à vitrine de doces, continuou da mesma forma que estava antes, como se nada tivesse acontecido. O casal do meu lado, seguia se deliciando com um belo café da manhã, como se nada tivesse acontecido. Os amigos do cara, seguiam conversando e interagindo, inclusive com ele, como se nada tivesse acontecido.

E ali eu percebi que a maneira de lidar com questões de saúde e de higiene, digamos assim, no Leste Europeu, era completamente diferente da maneira que eu estava acostumada a lidar.

E talvez o mais marcante da experiência tenha sido que sim, eu finalmente comi bem durante meu um mês sozinha pela Europa, porque em Budapeste tudo é de fato bem mais barato, mas, não, eu não lembro que comida eu comi nesse dia. Logo a comida, a experiência que mais me marca em todo lugar que passo e que é tão presente nas minhas memórias, se tornou totalmente secundária no dia que eu descobri que não é o fim do mundo uma pessoa assoar o nariz enquanto sentado em uma mesa dentro de um restaurante lotado fora do Brasil.

","external_link":null,"list_items":[],"recipe":{"portions":"","total_time":"","description":"","ingredients":[],"stages":[],"nutritional_information":""},"word_count":785,"read_time":5},"content_draft":{"title":"Comer, rezar, espirrar?","slug":"comer-rezar-espirrar","cover_image":null,"main_content":"

E ali eu percebi que a maneira de lidar com questões de saúde e de higiene, digamos assim, no Leste Europeu, era completamente diferente da maneira que eu estava acostumada a lidar.

","read_time":5},"author":{"id":"5e9fad23ac6c4c0763e2cbf5","name":"Naiara Cavalcanti","slug":"naictex","image":"https://users.redesign.static-01.com/5e9fad23ac6c4c0763e2cbf5/s/images/21e2486d9f14f19d7a8d34612cc6fb7c1a463ebe.jpg","bio":"estar inquieta é meu estado de espírito. http://www.naictex.com/","job":"comunicadora social"}}]}}}

Ops! Algo deu errado...

Nenhuma notificação

#como-conhecer-o-outro (1)

Comer, rezar, espirrar?

Nova Publicação

Ops! Algo deu errado...