Onde nasceu
Contextualizando sua origem com um breve histórico (que podem conferir com mais detalhes no site da capital Salvador), há registros de seu nascimento no século XIX, pelo tesoureiro Manoel Antônio da Silva Serva, tentando arrecadar recursos para manter de pé a igreja do Senhor do Bonfim. Já outros registros contam que essa manifestação de fé foi trazida de Portugal e não era específica para apenas um santo. Suas primeiras aparições eram na cor branca e em tamanhos bem maiores do que atualmente, servindo não como pulseira, mas como colar.
A versão da fitinha que conhecemos hoje nasceu no século XX, com um objetivo majoritariamente comercial, vista pela indústria do turismo como uma boa oportunidade de oferecer um souvenir interessante, significativo e de baixo custo para os turistas interessados em levar um pedacinho da Bahia com eles. Aliás, a tradição espalhada nesta época era de que as fitinhas não fossem compradas para si, mas sim que servissem para presentear outras pessoas.
Como vive
Tais fitinhas não são apenas um souvenir que trazemos como lembrança de Salvador, ou então um mero adorno para colorir nosso visual, mas também um amuleto, uma representação de fé de que Senhor do Bonfim realizará 3 desejos quando ela se partir, seja do seu pulso, tornozelo ou do gradil da igreja em que a amarrou enquanto fazia sua prece.
É comum vê-las passeando estampadas em cangas, carteiras, chaveiros, bolsas, móveis e decoração por todo o mundo. Seu uso e significado se expandiu e ganhou uma vida diferente em cada canto que ela passa. Muitas vezes descaracterizada e totalmente fora do contexto original, é utilizada em artefatos de luxo e por quem nem ao menos entende sua tradição.
Obra
Mas se sua intenção é a tradicional, há um jeito "raiz" de usar; não basta só amarrar no corpo e achar que vai dar certo! Dê duas voltas no pulso esquerdo e enquanto ata os três nós, vá fazendo um pedido em cada um. Não conte seus pedidos a ninguém e aguarde até que ela se parta espontaneamente, para ver o desejo se realizar.
Sim, ela tem mesmo esse papel de modificar seus hábitos e moldar seu comportamento. Ela é uma agente. Não somos os mesmos depois de decidirmos usar uma dessas fitinhas. Mesmo que sem pedir nada ou usá-la apenas como adorno, nossa imagem é enxergada de outra forma apenas por termos ela no pulso ou tornozelo.
Ver a pulseira te lembra da sua fé, te lembra do seu desejo e direciona seus atos diariamente para a realização deles. Serve como um objeto-guia. Há uma vida, uma agência, uma capacidade de interferir na vida das pessoas, no sentimento de segurança, esperança, fé. Caracteriza, inclusive, que você teve contato com a Bahia, com o Brasil, com a religião que lá vive ou teve alguém que lembrou de você trazendo uma delas como presente.
Legado
Essa fitinha não tem a mesma agência que outras pulseiras. Outras podem até serem parecidas, também de tecido, com pingente religioso, coloridas, mas não são iguais à essa. A do Bonfim é viva e age sobre você de forma única.
Ela pode custar centavos e ser distribuída até gratuitamente, com seu material comum e de nenhum requinte, mas o valor é construído por sua história, simbolismo, tradição, intenção, representação, temor. Ela é barata e simples, mas representa tanto para sociedade em que é inserida, que age como uma entidade importante e consciente.
Os objetos vão além da utilidade prática. São agência de acordo com o uso social e com o que as pessoas atribuem a ele como valor.
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