Para o exercício da segunda aula, com o intuito de conhecer uma comida com a qual nunca havia tido contato, escolhi o episódio "Cebu, Filipinas", da série Street Food. Eu me considero um "bom garfo", uma pessoa sem grandes restrições alimentares - a não ser que falemos de vísceras, aí realmente fica complicado. Alguns alimentos me provocam certo asco, mas eu encaro mesmo assim, seja pela experiência, seja pra não "fazer desfeita", seja pelo sabor - nem sempre o que é feio não é gostoso, certo?
Uma amiga me contou que, há alguns bons anos, um primo alemão (ou italiano?) veio conhecer a parte brasileira da família. Seu objetivo culinário era um só: provar finalmente a feijoada brasileira, o prato típico muito elogiado por todos os parentes que já haviam desembarcado em terras tupiniquins. Assim, foi preparado um almoço caseiro para que ele pudesse degustar à vontade, com o que ele ficou tremendamente animado.
Pois bem, quando o prato finalmente chegou à mesa, depois de espalhar aquele cheiro maravilhoso pela casa, sua reação foi de... Choque. O primo nem conseguiu disfarçar. Afinal, feijoada não é exatamente um prato bonito, certo? Vencendo a barreira visual, ele tomou coragem e provou! Aí não teve jeito, o gringo se rendeu ao sabor e ficou tão feliz como tinha imaginado anteriormente.
Pensei muito nesse caso ao conhecer a história do senhor Florencio Escabas e sua sopa de enguia, iguaria que ele e sua falecida esposa aprimoraram, enchendo de temperos e revelando aos comensais um sabor único. O ensopado fez tanto sucesso que não só mudou sua vida e de sua família, como também a de toda a comunidade local.
Como outras tantas comidas populares ao redor do mundo, decidir utilizar a enguia em um prato nasceu de uma necessidade financeira gigantesca. O que era abundante em Cebu era a enguia, mas ninguém queria comê-la. Assim, a falta de dinheiro fez com que o casal fizesse vários experimentos até chegar aos ingredientes certos para fazer da sopa de enguia um sucesso nacional.
Curioso observar que é comum as pessoas desenvolverem grande apreço pelo que cozinham e comem, de modo que críticas à culinária de onde vêm são tomadas como verdadeiras ofensas. Uma coisa que aprendi com minha mãe foi: na casa dos "outros", nunca recuse comida, é feio. Certa vez, fui lembrada disso por um cinegrafista em Heliópolis, a maior favela de São Paulo. Estávamos fazendo um trabalho na casa de uma senhorinha e eu não quis tomar seu café. "Nunca recuse café na casa de pobre!". Depois dessa bronca tremenda, segui à risca seu ensinamento.
Apesar do aspecto nada agradável da enguia, chego à conclusão de que eu provaria o ensopado de seu Florencio. Tenho certeza de que os temperos são saborosíssimos e a enguia, flácida e tenra, está lá cumprindo seu papel proteico. Se a vida em Cebu mudou tão drasticamente e o local atraiu tantas pessoas por causa dessa invenção, quem sou eu para recusá-la?