O meu estranhamento com um gatilho de conversa paulistano.
Talvez o meu relato e estranhamento não façam sentido para quem nasceu em grandes cidades e certamente passa despercebido entre grandes populações urbanas, mas para mim, que nasci e cresci em uma cidade de 50 mil habitantes no interior do Rio Grande do Sul, essa simples pergunta sempre despertou curiosidade e questionamento.
São Paulo não é a primeira capital que tenho a oportunidade de morar e, desde o momento em que fiz de um endereço temporário o meu comprovante de residência, sou surpreendida com um estilo de vida único, vibrante, diverso e cosmopolita. E foi durante esses quatro anos (e contando) que passei a perceber um padrão em toda conversa em que moradores da Capital Paulistana estabelecem pela primeira vez, que até então eu não havia observado com tanta pontualidade em outros centros: A simples pergunta “Que bairro você mora?”.
No início eu achava “normal”, uma forma de buscar alguma conexão ou identificação com a outra pessoa que você está conhecendo. Mas com o passar do tempo e a repetição do padrão comecei a ficar intrigada com o real significado do que a própria questão expõe. O que, de fato, as pessoas estão buscando saber ao questionar sobre o seu bairro? É o bairro que você mora que define quanto dinheiro você tem? Define como você se desloca pela cidade? Define quais lugares você frequenta? Define como é sua vizinhança? Define qual cenário te influencia? Define se você é uma “boa pessoa”? Será que é o equivalente a perguntar “De onde você é?” quando você está em outro país? Ou o “Você é filha de quem?” quando você mora no interior? Ou não passa apenas de uma forma de puxar assunto?
As dúvidas são muitas. E hoje a única certeza que tenho é que precisaria de anos de observação e pesquisa para conseguir ponderar sobre o que está implícito (ou não) nessa pergunta. Mas por hora fica aqui compartilhada a minha incompreensão e a vontade de explorar de forma mais profunda esse meu estranhamento cultural.
Foto.