Sempre adorei o ritual do café da manhã. Quando pequena, meu pai fazia mingau para mim e para minha irmã durante a semana e minha mãe fazia aos finais de semana. Nas férias, na casa da minha avó, comíamos bolos e pães enquanto tomávamos café com leite. Meu sonho era comer torradas e beber café sem leite, como os adultos. O tempo passou e realizei esse sonho, acrescentando frutas esporadicamente. De qualquer maneira, esse conjunto formou minha noção básica de café da manhã por muitos anos.
Sempre via em filmes as pessoas comerem bacon com ovos mas achava apenas algo curioso, não tinha muita vontade de experimentar. Deveria ser algo para que o café se passasse mais rápido, uma questão cênica mesmo, já que com todos os bolos e geleias, duraria o período de 2h do filme. Essa ideia mudou quando, pela primeira vez, fui tomar café da manhã em um hotel em Nova Iorque. E fiquei horrorizada!
O que me espantou de imediato foi o cheiro do restaurante. Um odor quase rançoso de gordura, que deixava o ambiente carregado e meu estomago turvo. Pegando o prato para me servir, fiquei espantadíssima com as opções: linguiças, bacons, batata! Onde já se viu! Afinal, estava na churrascaria Porcão ou indo comer a primeira refeição do meu dia? Olhando as mesas, percebi que o combinado geral era uma grande mistura de tudo: um prato com algumas frutas, outro com pães e doces, outro com ovos, bacons e batatas, um copo de suco, um de água e uma xicara de café! Cresci ouvindo meu pai dizer que “o café da manhã é a refeição mais importante do dia.” Aquelas pessoas levavam isso à risca!
Honestamente, achei absolutamente nojento. Não conseguia entender como conseguiam, logo ao acordar, comer tanto, e alimentos tão gordurosos. Como digeriam tudo aquilo, como não passavam mal? Comecei a louvar os hábitos alimentares dos brasileiros e a cada viagem que fazia, prestava muita atenção às opções presentes no café da manhã. Dependendo do que tivesse ali, eu formava um julgamento sobre os habitantes daquele lugar, sempre comparando com o Brasil de maneira desvantajosa, claro. Quanto aos filmes, liguei a chave da propaganda enganosa hollywoodiana. Afinal, como, comendo daquele jeito, as personagens eram, em sua maioria, magras e saudáveis? É muita lorota, né?
E, de repente, tudo mudou. Fui estudar em Oxford por seis meses. Cheguei no início do ano letivo, sendo final do verão no hemisfério norte. Com a mudança do tempo, as temperaturas caindo, via que a minha alimentação foi mudando radicalmente. Não apenas porque muitos alimentos, como frutas frescas, eram difíceis de achar e com valores elevados, mas também porque com o frio, meu corpo tinha a necessidade de comidas com mais calorias. Além disso, com dias curtos, estando já escuro as 17h, os horários das refeições eram diferentes.
Quando me dei conta, estava jantando as 18h. Se ficasse acordada até mais tarde, poderia tomar um chá com torradas. Acordava pela manhã não só com muita fome, mas também com frio, pois a calefação já estava desligada. Precisava de uma boa alimentação e que fosse quente, mas sabia que algum tipo de fibra natural tinha que ser ingerida então meu café da manha tinha que ter tudo isso, exatamente como o dos hóspedes do hotel de Nova York. E só aí que tudo fez sentido: eu não poderia continuar com a rotina alimentar que tinha vivendo no Rio de Janeiro quando estava em Oxford! O clima forçosamente fez a cultura ser diferente, mas adaptada àquela realidade. Mais estranho ainda foi constatar que havia engordado muito pouco, simplesmente porque meus meios de locomoção preferenciais eram a bicicleta ou caminhada, outra coisa que não fazia tanto no Brasil.
Hoje em dia, todas as vezes que uma cena de café da manhã aparece em um filme, presto muita atenção aos alimentos, mas tentando levar em consideração a época e lugar que a história se passa e, mais importante, controlando rejeições iniciais e lembrando dos meus seis meses na Inglaterra.