Poucas mulheres brasileiras tem conhecimento mas, muitas das marcas que possuem em seus corpos são resultado da modelagem das roupas usadas durante sua vida. Apesar do abandono do espartilho e estruturas rígidas das quais eram compostas as roupas das mulheres, outras modelagens ganharam espaço em seus guarda-roupas e, apesar da aparente liberdade dos corpos, as modelagens ainda aprisionam corpos à roupas que não foram projetadas para eles.
Uma das modelagens responsáveis pela alteração na silhueta do corpo feminino brasileiro foi a cintura baixa no início dos anos 2000. Impulsionadas pelo uso frequente do jeans para todas as ocasiões do dia a dia, as cinturas baixas eram posicionadas entre 10 a até 20 cm abaixo da cintura natural e na maioria das vezes eram acompanhadas por estruturas de peças justas que tinham como objetivo ressaltar o corpo que as vestiam. Assim, eram usadas com elástico, ou no caso do jeans, peças realmente justas, muitas vezes usadas numa modelagem menor para garantir que a peça realmente mostrasse o corpo que a vestia.
A modelagem no entanto apresentava alguns desafios, como a dificuldade em faze-la se fixar ao corpo sem cair, ou mostrar mais do que deveria, por exemplo ao sentar as calças promoviam aberturas na região traseira, revelando o começo das nádegas (o famoso cofrinho) ou deixava a calcinha aparente, por isso era frequente o uso de cintos justos que acompanhavam as peças na tentativa de manter-las no lugar.
Além disso, a cintura baixa revelava uma peça que até então permanecia em segredo embaixo de outras peças, a já mencionada calcinha. A cintura das calcinhas também foi modificada e a peça foi reduzida cada vez mais, com laterais mais finas e justas no quadril. A luta por mante-las escondidas nem sempre era vencida, com isso uma nova moda se instaurou, as calcinhas propositalmente feitas para serem aparentes. Elásticos coloridos com logo de marcas famosas ou elásticos extremamente finos que transmitiam uma mensagem de sensualidade eram propositalmente usados de forma evidente acima da cintura das peças, comunicando o perfil daquela mulher.
No entanto, essa febre da cintura baixa não levava em conta as silhuetas naturais femininas e os diferentes corpos que podemos encontrar em nossa população. As peças em cintura baixa eram projetadas para corpos magros e longilíneos, e na grande maioria das vezes não eram esses corpos que as vestiam. O cós dessas peças justas e feito em jeans, um material forte e de pouca elasticidade, comprimiam o corpo feminino, empurrando parte da gordura corporal para cima, e consequentemente formando uma nova cavidade na silhueta corporal conhecida como segunda cintura (ou cintura dupla) dividindo a região em duas partes. O resultado dessa divisão permanece como incomodo até hoje para as brasileiras, e são um dos principais motivos da busca por cirurgias plásticas, principalmente a lipoaspiração, com o objetivo de remover a barriga mais flácida, os culotes e os famosos pneuzinhos.
Assim, a modelagem e o ato de vestir possuem um impacto direto e indireto sobre a forma como nos comportamos e nos preocupamos como nos apresentamos em sociedade. Ela atua como um intermediário em todas as atividades que exercemos em nossas vidas, pois estão diretamente junto de nossos corpos, e podem revelar nossos desejos e anseios perante sociedade e não só pelo conforto e proteção. Observar uma modelagem de roupa pode nos trazer informações que vão além da moda do momento, pode nos contar sobre comportamentos de consumo do passado, presente e futuro. Quanto ao corpo o mesmo acontece, ao observar um corpo é possível ter pistas de quais contextos esse corpo foi inserido e quais desejos e necessidades o moldaram daquela maneira.