Antropologia do Consumo
Antropologia do Consumo
Você procura por
  • em Publicações
  • em Grupos
  • em Usuários
loading
VOLTAR

As diferentes culturas que constroem a nossa cultura

As diferentes culturas que constroem a nossa cultura
Milena Dorta
mai. 31 - 3 min de leitura
000

Há alguns anos estive na Vila Operária em Duque de Caxias no Meeting of Favela, um evento de graffiti que reune artistas do mundo inteiro para colorir os muros da comunidade. Me lembro de subir os vários degraus até o topo do morro empolgada por viver aquilo, mas também apreensiva. Um medo que era reflexo de uma leitura imposta. Uma visão homogeneizada e desumanizada da favela, que a reduz e a estigmatiza como perigosa sobretudo.

Eu subi o morro tentando me desvencilhar desse olhar, mas foi depois de estar lá em cima que eu  me abri para o que estava sendo apresentado para mim. Era um mundo totalmente diferente do que eu conhecia e observando-o aos poucos eu fui sendo atraída pelas relações que estavam ali retratadas. Eram as 4 crianças em cima de uma moto, eram outras crianças ainda bem pequenas que corriam pelo meio dos artistas e se perdiam entre as casas e ruelas. Era o homem que usava vários e grandes colares (que eu presumia serem de ouro) passar pela rua e receber uma leve reverência dos moradores, era o ar de respeito e superioridade que emanava dele. Tudo era diferente, menos a relação que elas tinham com o graffiti. De certa forma, eu já tinha presenciado aquele sentimento de entusiasmo por se sentir visto, considerado, representado e presenteado pela arte. Mas ainda sim, tudo era diferente.

Nesse diferente eu tentei buscar respostas. Olhava para aquelas pessoas e tentava descobrir qual era a história delas, o que elas faziam, como era a vida delas, o que elas pensavam, o que elas sentiam. Mas eu ainda não estava totalmente livre da minha "vivência de mundo”.

Escutando, observando e conversando eu percebi um pouco do senso de comunidade e segurança que aquelas pessoas tinham. Mas, ao mesmo tempo, ver homens armados andando por ali ainda me chocava e me causava um estranhamento, uma luta interna para ir além do julgamento - e, não estou falando aqui do julgamento “é bandido porque quis”, não, mas do estereótipo que surge à cabeça ao ver um homem armado em tal cenário.

E este é o ponto. É justamente nesse fugir de qualquer juízo de valor que a antropologia nos leva a um lugar de apreciação sobre o diferente a partir de um olhar de estranhamento como ferramenta metodológica que nos estimula a descobrir os porquês por trás das atitudes. Dessa forma, por meio do relativismo cultural, é possível olhar para uma cultura a partir da sua própria lógica e, não de um olhar etnocêntrico, abrindo assim espaço para novas possibilidade de compreensão sobre o outro e nós mesmos, como destaca Laplatine (2003): “O conhecimento da nossa cultura passa inevitavelmente pelo conhecimento das outras culturas.”

.

.

Foto: Clarissa Pivetta / Divulgação


Denunciar publicação
    000

    Indicados para você