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Desde muito jovem na minha família observei a presença desse ente que estava presente sobretudo em festas e momentos de celebrações como o Natal. O chocolate estava na minha casa nestes momentos e assim nascia uma relação. A presença daquele pequeno objeto me trazia o sabor de alguma festa ou celebração.

Com o passar dos anos aprendi a cozinhar e fui percebendo que o chocolate era uma das mais versáteis possibilidades na cozinha. Era uma calda, uma barra, um brigadeiro, uma ganache, em pedaços, ralados, enfim... uma infinidade de possibilidades. Mas nunca havia me perguntado de forma antropológica, referente ao chocolate, de onde vinham e para onde iam aqueles objetos em barra que eram tão consumidos na minha casa nas festas e celebrações.

Há alguns anos comecei a estudar um pouco o mercado de cacau e chocolates para um trabalho e observei uma mudança na qualidade e na produção deste produto. Há um movimento chamado “bean to bar” que vem modificando a forma de se perceber o chocolate. Este movimento procura produzir o chocolate tal qual o conhecemos mas com maior controle de qualidade e de forma artesanal, com seleção de grãos que são produzidos em microlotes específicos para a forma “bean to bar”. Com esta produção sendo em menor escala é possível ter um chocolate com nome e sobrenome. Dito de outra forma, o chocolate bean to bar pode ser um chocolate de origem Bahia, Fazenda Belmonte ou Chocolate Fazenda São Luiz, origem Linhares/Espírito Santo.

O chocolate que tem nome e sobrenome não pode ser um chocolate qualquer. Sua cadeia de produção é específica e antes de ser produto para o consumidor final nasce como fruta selecionada, chamada de cacau fino pelos produtores e passa pelos processos normais de secagem das sementes em tanques específicos para aquele cacau. Após se tornar um produto (barra de chocolate, por exemplo!) tem diferenciais dos chocolates do mercado desde a forma de produzir, passando pelo sabor e cheiro. Após esta etapa o chocolate se transforma em celebração com uma trajetória diferenciada.

O chocolate que antes estava na minha casa já como uma presença ilustre nas festas e celebrações, hoje é também uma pessoa com nome, sobrenome, origem e trajetória.

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