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O Big Brother Brasil, um programa de televisão que tem como propósito o entretenimento, me fascina ao trazer cenas em que é possível ter um cenário tão profundo de análise com questões triviais, como uma simples receita. Por esta razão e por conta do distanciamento social, optei por descrever um momento do programa.

O local é uma casa com câmeras por todo lado, o espaço em questão é a cozinha, propositalmente dividida em dois ambientes. Um lado é moderno e muito bem equipado, com diversos utensílios, armários, eletrodomésticos e ladrilhos brilhantes. Este é o lado VIP, onde não somente o ambiente, mas o tipo de comida disponível também é diferente do outro lado. Em cima da mesa é possível ver uma cesta com diferentes tipos de frutas, a geladeira e os armários estão supridos de maneira abundante com diversos alimentos e as bancadas com muitos temperos e decoração. Já o outro ambiente é a cozinha Xepa, os móveis tem um ar antigo e são coloridos, assim como os ladrilhos, dando a impressão de serem baratos. A quantidade de eletrodomésticos e utensílios é bem menor comparada com o outro lado. Em cima da mesa é possível ver um trilho colorido, mas nenhuma fruta disponível. Falando em comida, não há variedade de alimentos, além da quantidade ser racionada.

As pessoas que habitam a casa, são dividias em dois grupos, uma parte do grupo só cozinha e come os alimentos disponíveis no lado VIP e a outra parte somente na Xepa. Três integrantes reunidos no lado Xepa discutem se é possível fazer cuscuz com farinha de milho, dois deles são nordestinos e expressam a vontade de comer uma comida típica do seu dia a dia. Entretanto o ingrediente não é tradicionalmente usado para o prato em questão, por isso começam a debater. O outro integrante, vindo de outra região do país, diz que não sabe preparar a comida e se nega a fazer. Os três discutem a respeito disso e os ânimos vão se exaltando pelo fato de não se entenderem ou chegarem em um consenso. Vale ressaltar que, além de questões culturais envolvidas na discussão, a personalidade de cada um dita o tom de toda a cena. Um dos integrantes tenta se esquivar da responsabilidade de tentar fazer algo novo sem ter total domínio da situação. Já a outra toma a iniciativa e se arrisca ao tentar fazer o prato, sem ter habilidade ou certeza se o ingrediente é adequado para a receita. A conversa escala para um nível filosófico a respeito do medo de arriscar. A integrante que tomou a frente da situação diz que esse sentimento não levaria o outro participante a lugar algum dentro da situação que se encontravam no programa. Em seguida a conversa foi diminuindo o tom e voltaram o foco para as questões das diferenças de comunicação, como eles não conseguiam se entender por uma questão simples e debatendo sobre quem tinha razão nesse caso. Por fim, o grupo conseguiu conciliar as diferenças de certa maneira e a receita com o novo ingrediente deu certo.

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