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Já dizia e ensinava o poeta da Vila, Noel Rosa, para que o garçom trouxesse uma boa média e que esta não fosse requentada. A bebida que faz parte do dia a dia de muitos brasileiros está passando por uma metamorfose, para ficarmos no termo antropológico cunhado por Gilberto Velho.

Durante anos tivemos o café nas nossas mesas como um personagem que tinha certa presença e respeito dos espectadores, mas por razões diferentes das que temos hoje. Explico melhor. Ao longo da minha vida eu convivia com pessoas adultas que tomavam muito café. Era um hábito que vinha desde a casa dos meus avós maternos e paternos. Creio que isso tenha muito a ver com o fato de ambas as famílias terem sua origem no interior. Era muito comum que as famílias recebessem as pessoas com “um cafezinho” nas suas casas. Embora eu não tomasse café com os adultos da casa, me habituei a ter a bebida por perto.

Enfim cheguei à adolescência e passei a consumir o café da casa muito mais pelo efeito de me manter acordado do que propriamente pelo sabor. Naquele momento o café que tínhamos em casa era o “café de gôndola”que mais tarde vim a descobrir que se tratava, entre os entendidos do mundo do café, de um produto com padrão industrial de torra e moagem. Isso, no limite, dava um produto inferior, misturado com grãos diferentes (arábica e conilon), além de, segundo alguns especialistas em café, ser possível encontrar galhos e folhas.

Com o passar do tempo e mais recentemente a indústria de café mudou. Claro que ainda há o “café de gôndola”, mas hoje também há (algumas vezes também encontrado nas gôndolas dos supermercados) os “cafés de microlotes” em geral 100% arábica, além disso existem, em menor proporção, os conilon.

O café passou a ter nome e sobrenome, além de origem.

Hoje quando peço um café em alguma cafeteria ou outro estabelecimento, tento saber a origem e o tipo de torra que sofreu o grão. Além disso, é mais comum hoje pedir pelo método de filtragem do café. Tudo isso para dizer que assim como na aula ouvimos o caso da água Minalba ou a Perrier, procuro ter em casa para o dia a dia um café de microlote, ou seja, aquilo que parece ser supérfluo é o que trato como básico. E bem como vimos em aula estas categorias não são fixas e muito menos iguais para todos. O aspecto cultural é preponderante nesta escolha e hierarquização.

Um café, por favor… mas que seja de microlote, 100% arábica, da região do Caparaó Capixaba e de torra média, filtrado e, por favor, que não seja requentado.

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