Havia, até algum tempo atrás, uma "feirinha" dessas de tudo, xing ling, aqui na Rua Pamplona com a Avenida Paulista. Era um formigueirinho de tudo, que foi vencido pela gigante Centauro.
Sempre achei interessante passar por lá, mesmo que só pra ver o que vinha sendo oferecido. Milhares e milhares de cópias, falsificações, coisas de segunda linha, ou outras nem tanto.
Uma das vendinhas, tinha uma mulher que mal falava português e vendia as bolsas mais caras do espaço. Lá tinha pochetes Louis Vuitton de oitocentos reais, nessa linha. Tinha coisas lindas lá. O acabamento dos produtos dela era diferente dos demais, a costura, o zíper, as cores dos fechos e botões. Ela era uma espécie de magnata do espaço.
Em contrapartida, a maior parte das vendinhas que ofereciam bolsas, tinham expostos produtos com logotipos grosseiros, mal impressos, por vezes até tortos e bem mal acabados. Os valores eram bem mais baixos, coisa em torno de setenta reais uma pochete.
O que me agrada passear nesse tipo de comércio, é ter um termômetro das marcas que estão fazendo sucesso na massa, e , de alguma maneira também, me inteirar do que a moda - e as grifes de bolsa de luxo - estão oferecendo por aí. Eu não sou consumidora de luxo, tão pouco frequentadora dessas lojas, ao mesmo tempo que não tenho desejo por essas marcas de bolsa. Eu ficaria, inclusive, bastante tensa andando pela rua com um valor desses nos ombros.
Além disso, eu não participo do consumo destes produtos, pois sou contra a exploração de trabalho dessa indústria, não sei que tipo de meios ilícitos envolvem o ecossistema e o karma que vem junto caso eu consuma (risos). O fato é que na ponta de venda lá, não importa como foi produzido, aqueles produtos são bolsas, de marcas de luxo, sendo comercializadas, e que eu considero horrorosas por serem toscas e falsificadas, além de tudo que está por trás.
[Corta a cena]
Estou em um ônibus no corredor nove de julho a caminho do Itaim Bibi. Eu e minha bolsa sem marca a tiracolo, com o notebook da empresa nas costas, o celular guardado e uma música do momento no ouvido. Mania minha de me deslocar sem distrações além das pessoas que compartilham o espaço comigo. Eu observo os distraídos. Alguns imersos em seus telefones, outros com outras coisas da vida offline. E fixo meus olhos em uma mulher jovem, muito jovem, cerca de 20 anos. Ela está de pé, protegendo uma criança sentada e conversando com outra mais velha ao lado dela. Ela está vestindo uma calça jeans e um sapato com jeito de desconfortável e um pouco gasto. A mulher mais velha carregava no colo uma sacola cor de rosa, dessas de "coisas de neném", de onde tirou bolachinhas para a criança e guardou um casaquinho a pedido da jovem de pé. A jovem parecia ter saído do trabalho pois estava muito maquiada, os cabelos presos e uma blusa com jeito de uniforme e um logotipo que não reconheci.
Nos ombros, ela tinha uma bolsa em formato de saco de couro. Com logotipos da Fendi. A bolsa estava explodindo de coisas dentro, estufada, tinha umas costuras soltas nas bordas, e um descascado perto de onde tinha o fecho.
Falsificada, para mim. Mas uma bolsa que carregava as coisas para ela e que era a coisa menos importante na cena que eu assisti. Fiquei pensando que talvez ela nem fizesse ideia que aquela bolsa era uma falsa Fendi. Possivelmente era apenas uma bolsa que resolveria alguma necessidade dela e tinha disponível em algum ponto de venda com preço acessivel que ela passou.
Depois dessa cena, passei a relevar esse senso de "proibido comprar falsificados" que era mais inflamado em mim. E toda novela que eu desenho de bastidores ilícitos por trás desses produtos, que nem sempre sequer vão passar pela cabeça de quem está consumindo. Eu não compro, mas eu entendo quem compra.