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Uma outra Copacabana

Uma outra Copacabana
Naiara Cavalcanti
mar. 1 - 3 min de leitura
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Os relatos do viver em Copacabana, no começo dos anos 2000, tomam novas proporções pelas câmeras abertas de Eduardo Coutinho e sua equipe.

De fevereiro em fevereiro, as ondas de pedra do calçadão de Copacabana seguem as mesmas: o vai e vem, o vem e vai de milhares de pessoas prontas para pular o Carnaval carioca, de rua ou de sambódromo, tomar uma na praia e voltar pro apartamento alugado na Zona Sul para tomar um banho antes do próximo bloquinho. 

No fluxo do ir embora e deixar Copacabana e o Rio de Janeiro a seus residentes, o imaginário do bairro, do que ele representa, de quem reside nele e até da sua personificação, parece ser óbvio e unânime.

E sem estranhamento nem porquês. “Copacabana é assim porque é assim; as pessoas em Copacabana são assim”, mas basta habitar um mesmo espaço para ser familiar e igual?

Coutinho, sua equipe e suas câmeras logo nos demonstram outras narrativas, tomadas de perguntas, porquês e uma busca por entender o trivial cotidiano de pessoas de diferentes contextos, todas conectadas por um denominador em comum: o Edifício Master.

12 andares e mais de 200 apartamentos recheados de um familiar que não é tão familiar assim. Palavras, gestos, olhares, causam estranhamento. E, possivelmente o mais potente: as diferenças tão grandes entre moradores de um mesmo prédio causam questionamentos.

Durante o documentário, alguns relatos associam Copacabana ao caos, como os moradores Daniela e Marcelo. Já outros, associam o bairro à uma prisão, como Maria Regina que fala da sua relação com um dos cartões postais do Rio de Janeiro.

Copacabana, para mim, é sinal de imaginar e festejar; pela mídia, a conhecemos de forma glamorosa. Então, quão estranho é se deparar com palavras como "aterrorizante" e até sensações de ser "sufocante" para alguns dos moradores do Edifício Master? 

Durante o documentário, até o mais banal do cotidiano nos dá sensações de familiaridade e de estranhamento, tudo misturado e ao mesmo tempo. Do desejo de não encontrar ninguém no elevador à vontade de conhecer (pelo menos visualmente) quem é a criança que mora com os pais no andar de cima.

De outros andares e outros cotidianos, da vista da janela, do “bom dia” no elevador. O mais familiar dos costumes ‒ que, na realidade, como Gilberto Velho diz, nem por isso nos é conhecido ‒ nos deixa na ponta dos pés para adentrar aquele universo e entender um pouco mais. 

E já o mais estranho dos comportamentos se funde à familiaridade nada conhecida. Familiar e exótico se confundem e nos apresentam um universo em que as diferenças são claramente evidenciadas pelo processo de escuta, questionamento e tradução. E, assim, o documentário coloca ali, na tela, para deixar bem claro, que não se entende nem o familiar e nem o exótico de fora, sem ida, sem escuta, sem “por quê?” e sem partida.


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