Tornar estranho aquilo que é familiar é um desafio. Familiar se enquadra naquilo que estamos acostumados, que é comum e não exótico. Em nossas vidas cotidianas passamos por muitas situações e, devido ao excesso de informações que recebemos, não prestamos atenção em realmente quase nada, e esse é um dos motivos de termos uma percepção homogênea da sociedade em que vivemos. Como ao ir para o trabalho, e esquecer o que o motorista do ônibus estava usando.
Mas como tirar esse filtro do familiar e conseguir perceber as diferenças e as nuances culturais que as pessoas carregam? Peguemos o documentário sobre o edifício Master como estudo, o que poderia ter de exótico em um prédio em Copacabana e em seus moradores?
Na entrevista com Daniela, uma inquilina do Edifício Master e professora de inglês que fala pausadamente e apresenta um desconforto por estar ali na entrevista, até aqui é tudo familiar, o que o torna exótico? Daniela possui uma condição emocional que atrapalha seu convívio social. É interessante perceber com o documentário que essas características da professora não a atrapalham em sua comunicação intrapessoal.
Ao que parece, e isso se torna o estranhamento nessa cena, é que ela possui uma quase fobia de aglomerações e apresenta falta de confiança em si para encarar as pessoas, mas ao mesmo tempo vive em uma cidade extremamente populosa e em um prédio com muitas dezenas de inquilinos.