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Vani e Rui são normais pra quem?

Vani e Rui são normais pra quem?
Gabriel Martins Santos
jan. 5 - 3 min de leitura
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Recentemente, comecei assistir à série “Os Normais” com o meu namorado. O que me motivou a pegar a série de quase 20 anos atrás foi não só o fato de ser roteirizada por Fernanda Young, mas também alguns memes do Twitter e vagas memórias da sua veiculação na TV aberta. 

Todo o humor da produção gira em torno de desafiar uma visão do que é normal ao colocar uma lupa sobre a vida privada. Para isso, o programa apresenta o cotidiano de um casal carioca de classe média, Rui e Vani, que são brancos, heterossexuais e (teoricamente) monogâmicos. Geralmente, os episódios fazem paralelos entre os comportamentos dos protagonistas e um ou dois outros personagens.

Apesar do nome da série, o padrão de vida deles não estava muito próximo da média nacional: em 2001, 43,7% dos brasileiros não tinham acesso a esgoto adequado e 27,52% da população estava abaixo da linha da pobreza. No entanto, não é essa discrepância que me causou estranhamento. Afinal, até hoje vemos que boa parte das produções de TV retratam personagens de classe média-alta do eixo Rio-São Paulo. 

Quando assisto, o que se sobrepõe é a questão do olhar anacrônico, ou melhor, da série ter “envelhecido mal”. Muito do que poderia ser considerado ousado ou até mesmo vanguardista no momento da veiculação, hoje poderia ser interpretado como problemático ou até mesmo preconceituoso.

Um dos temas mais presentes na série é a traição. Apesar de se amarem, o relacionamento dos noivos está na berlinda o tempo todo. E as brigas cotidianas parecem sempre escalar para ameaças ou atos de traição. Discussões sobre relacionamentos abertos (imagino que poligamia seria impensável para a época) não apareceram até o momento.

Eu sinceramente nunca conheci um casal que fosse como Rui e Vani. Talvez por ser um gay da geração Z, ou então por não fazer parte dessa classe média carioca. Tenho dificuldade de entender como duas pessoas tão diferentes se mantêm juntas. Afinal, eles vivem sempre em conflito e parecem nunca concordar sobre qual estilo de vida querem levar.

Apesar disso, consegui me afeiçoar aos personagens, especialmente à Vani e seu jeito exagerado. Também porque ela frequentemente aponta em Rui seus comportamentos machistas ou incoerentes. Porém, me pego com muita frequência com muita vergonha alheia ou até mesmo frustrado com o comportamento dos personagens.


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