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Alessandra e Eu no Edificio Master

Alessandra e Eu no Edificio Master
Beth Castilho
dez. 1 - 4 min de leitura
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1. Ela, uma das moradoras do Edifícío Master e entrevistada pelo diretor Eduardo Coutinho, conta que não teve infância.

[Exótico]

Ao contrário dela, eu fui uma criança com uma baita infância com tudo que uma baita infância deve ter: tempo e liberdade pra brincar, passear, imaginar, colorir, nadar, correr, pedalar, jogar, criar, aprender e me desenvolver.

[Tentando o Familiar]

Segundo ela conta, sua vida era um ir e vir absolutamente supervisionado e controlado pela figura do pai. Numa tentativa de fricção entre seu e meu mundo, aqui era a figura da minha mãe que tomava as rédeas em meu nome e acompanhava tudo de perto.

2. Ela engravida aos 14.

[Exótico]

Aos catorze anos eu nem havia menstruado! Menina de tudo, não pensava em namorar, meninos, homens, nada.

[Tentando o Familiar]

Assistindo a entrevista, me invadiu uma lembrança da Heloísa. Ela morava no andar acima do meu apartamento e era conhecida e temida pos nós [um grupo de pré adolescentes da rua] por ser a "Mãe Generala". Heloísa era um porre, um balde de água fria, um obstáculo para qualquer impulso criativo das crianças. Ela tinha três filhas que faziam volume na turma e, sempre que estavam envolvidas em alguma brincadeira, ameaçavam a paz reinante, pois da Heloísa, podia se esperar qualquer surpresa [negativa]. Me lembro de ouvir "Segura tanto essas meninas que daqui a pouco é avó". Batata! Uma das filhas engravidou com 15 anos. Foi um evento. Mãe Generala e Pai Furioso tiveram que repensar todos os planos para o futuro. Esse caso é o mais próximo que tenho referência sobre ser mãe tão jovem e é onde consegui encontrar familiaridade.

 

3. Ela recebe uma "primeira bolada de dinheiro"

[Familiar]

Quando eu recebi meu primeiro "dinheiro" com valor considerável, senti uma alegria tão grande, e meu primeiro pensamento foi "Vou ao shopping!".

[Exótico]

Meu primeiro "dinheiro" não foi fazendo um programa, foi o salário de recém contratada em uma grande agência de propaganda. Eu havia quebrado [falido] minha empresa com 27 anos e, aos 28 virei estagiária. Foram 8 meses bem desafiadores onde eu tinha que trabalhar, participar da vida social da agência, administrar uma empresa falida, pagar contas, e ter um sorriso no rosto com o salário do estágio. Até que fui estagiar em outra agência e recebi a proposta de efetivação depois de 3 meses. O salário que eu ganhei no dia do pagamento era um dinheiro que eu não via há muito tempo. Melhor: era um dinheiro que eu jamais tinha visto. "Vou ao Shopping". Diferente da Alessandra, eu não tinha uma filha junto comigo e não "comi" o dinheiro, mas entrei numa loja e comprei a malha de lã que eu paquerei todo o inverno na vitrine. Era uma malha azul royal, de gola alta, um recorte meio quadrado, de uma marca cool. Que sensação boa! Meu dinheiro, meu trabalho, meu poder de compra/ escolha. Ela escolheu junto com a filha gastar no McDonald's e fez muito bem.

4. Ela espera a morte a qualquer momento.

[Exótico]

Ela conta que bebe [álcool] todo dia pra conseguir trabalhar [vendendo sexo e aguentando humilhações diárias] e sustentar a filha. Diz que pode morrer a qualquer hora, mas que não quer que chorem sua morte.

[Familiar]   

Eu sinto a mesma coisa que a Alessandra quando diz que quem morre está melhor do que quem está vivo. Não é uma certeza, mas é um alento saber que uma hora, essa vida [que é tão difícil ser vivida], acaba. Encontro o familiar no sentimento dela que diz que "não quero morrer, amo minha vida, mas sei que quando eu morrer, vou parar de sofrer". Sinto o mesmo. Diferente dela [que usa o álcool], tenho meus calmantes que me ajudam em dias que a vida fica muito difícil.

5. Tentando concluir

Fiquei pensando em muitas coisas. Me senti vagando entre o olhar do exótico e do familiar entre a vida da Alessandra e a minha. Fiquei confusa sobre que caminho seguir para concluir esse artigo. E não tenho conclusão.

 


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