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A Praça de Alimentação do Shopping

A Praça de Alimentação do Shopping
Icaro Ferracini
dez. 14 - 6 min de leitura
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[ Ponto de atenção: Ainda estamos vivendo uma pandemia e o isolamento, junto com todas as outras medidas preventivas, ainda é necessário para proteger a nós e aos outros. O texto foi feito com base em experiências anteriores. ]


Um dos passeios mais comuns do paulistano é ir ao shopping. É comum esse passeio ser precedido pelo convite onde dizem "Vamos dar uma voltinha no shopping?" se referindo a caminhar no local, sem necessariamente ter um objetivo prévio definido, apenas para ver as lojas e conversar. Vamos chamar as pessoas que fazem esse passeio e frequentam o shopping para lazer de "público".

E dentro do shopping há um local chamado "Praça de Alimentação". Em uma definição bem ampla, "praça" é um local público que propicia a recreação e convivência entre pessoas. No shopping esse local proporciona para as pessoas também a possibilidade de comprarem alimentos diversos: lanches, comida japonesa, italiana, mexicana etc., possibilidade de montar o próprio prato com a comida e quantidade que desejar, sobremesas e mais um monte de possibilidades gastronômicas. As pessoas chamam cada uma dessas opções de "restaurante".

Então, recapitulando nosso recorte até aqui temos: em São Paulo, um shopping que contém uma praça de alimentação com restaurantes. E geralmente vamos encontrar esses restaurantes na área mais afastada possível do shopping, para que o público possa passar por mais lojas durante o percurso.

E a interação do público com a praça de alimentação pode ser bem variada, por exemplo: Há pessoas que vão para encontrar amigos, outras vão apensas para sentar e descansar um pouco, outras para utilizar a rede wi-fi do shopping... Mas a grande maioria do público vai para se alimentar comprando sua comida favorita de um dos restaurantes que lá estão, e essa atividade tem seu pico nos horários do almoço (das 12h às 14h) e do jantar (das 18h às 20h).

Conforme vamos nos aproximando desses horários de pico vemos os restaurantes preparando suas especialidades e otimizando o máximo possível suas atividades com o objetivo de atender o público que está para chegar, com o objetivo de evitar filas e demora nos pedidos, pois já tem uma estimativa de quanta demanda terão durante esse dia (mas não vamos entrar nos detalhes dessa preparação aqui).

O público, por sua vez, apresenta um outro leque de atividades nesse local e cada uma com uma série de decisões. Vamos ver brevemente alguns itens:

  • Decidir o que comer entre as várias opções

Pesam aqui o apreço ou a vontade por um tipo específico de comida, o preço dessa comida, se a pessoa está em algum tipo de dieta, se há influência de amigos, se existe alguma propaganda que chame a atenção, se ela tem muito ou pouco tempo para a refeição, se o restaurante está lotado ou não, se o cheiro da comida de um restaurante chama mais atenção que a do outro...

Dentre as escolhas podemos ver que algumas pessoas buscam sempre uma coisa diferente para comer e estão muito abertas aos lançamentos e novidades dos restaurantes e outras se mantem sempre em um mesmo padrão de alimentos ou nos mesmos restaurantes, sem grandes mudanças.

  • Buscar um local para sentar

Aqui os fatores que influenciam podem ser: se a pessoa está sozinha ou não, o horário que ela chegou na praça de alimentação, se o restaurante tem uma mesa própria para ela consumir dentro do estabelecimento ou se irá sentar em uma área comum, se irá consumir na própria praça de alimentação ou não, se o local é barulhento ou é mais tranquilo...

Quando em grupo, há ainda a atitude de deixar o crachá do trabalho em cima de uma mesa para sinalizar aos outros de que aquele local está ocupado ou, caso estejam em grupo, de fazer um revezamento onde uma parte do grupo vai comprar a comida no restaurante e outra parte aguarda na mesa para que não percam o lugar em que já estão.

Uma pessoa sozinha pode buscar um assento somente depois de comprar seu alimento e, com a comida já em mãos, circular pela praça de alimentação em busca de um lugar vago. Essa possibilidade é reduzida ao estar em grupo pela baixa probabilidade de acomodar todos os integrantes em mesas próximas conforme o público do local vai aumentando.

  • Comer, finalmente

Após ter escolhido o que comer e conseguido o local para sentar as pessoas podem finalmente comer. E quem está em grupo pode aproveitar para conversar, quem está sozinho tem a opção de assistir algo no celular, por exemplo.

Porém esses dois públicos, se estiverem na praça em algum dos horários de pico que falamos acima, sentirão, em algum momento após terminarem de comer, a pressão para deixar o local para que outras pessoas possam sentar.

  • Pegar as coisas e partir

Na praça de alimentação, nos espaços públicos, é comum as pessoas limparem suas mesas após comerem deixando os pratos e talheres em locais indicados e levando o lixo para as lixeiras. Isso deixa o local pronto para receber outra pessoa, que já iniciou de alguma forma as etapas 1 e 2 listadas acima.

Conclusão

Enfim, aqui escrevi muito brevemente sobre alguns itens, mas percebi que há uma variedade de interações e pessoas que podemos observar e explorar em um ambiente. Aqui, por exemplo, poderíamos seguir e entrar nos processos dos profissionais que auxiliam o processo de limpeza da praça de alimentação ou na atividade dos atendentes dos restaurantes que tem o primeiro contato com o público, entre outras.

É interessante ver que na medida que vamos descrevendo (ao menos essa foi minha percepção) vamos percebendo que podemos e sentimos falta de entrar cada vez mais nos detalhes e nos porquês, trazendo mais perguntas e descobrindo mais coisas exóticas dentro do universo que, olhando de forma simples ou distante, nos dava a impressão de que era familiar.


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